Um grupo de cientistas identificou o mecanismo que desliga os neurónios com a função do sono e permite acordar, revelou um investigador português que participou no estudo.
“Neste estudo identificamos o mecanismo pelo qual a dopamina atua nestes neurónios de forma a desligar a função do sono e acordarmos”, explicou à agência Lusa o investigador Diogo Pimentel, neuro-cientista da Universidade de Oxford.
Os resultados da investigação, liderada pelo professor Gero Miesenböck, da Universidad de Oxford, foram publicados na revista Nature, e descrevem “dois mecanismos distintos para a dopamina actuar”.
Um dos mecanismos actua num espaço de tempo relativamente curto, por exemplo “quando alguém acorda com um ruído forte, vê o que se passa e volta a adormecer imediatamente”.
O outro mecanismo actua “quando é necessário acordar e manter-se acordado por um período de tempo mais longo”, explica Diogo Pimentel.
“Aí entra a identificação do gene que descrevemos no estudo, a proteína sandman — expressão anglo-saxónica equivalente ao João Pestana português”, diz.
“A sandman cria uma interrupção do sono mais ou menos permanente – o que leva a estarmos acordados de uma forma mais persistente”, acrescenta o investigador.
A função deste gene, estudado em moscas, era desconhecida, mas a partir de agora sabe-se que tem a função de desligar os neurónios que comandam o sono.
“É uma proteína ou canal iónico – e se o retirarmos das células que comandam o sono as moscas passam a dormir mais de 20 horas por dia“, resumiu Diogo Pimentel.
O investigador português da área das neuro-ciências explica que um mecanismo ainda não identificado faria o reverso.
“Durante o dia, quando estamos acordados, alguma coisa faz voltar a activar estes neurónios para podermos voltar a dormir”, explicou.
Assim, “se conseguirmos descobrir agora quais os sinais internos no cérebro que voltam a reverter este processo, estamos um passo mais perto de descobrir porque é que precisamos de dormir“, aponta o cientista.
O sono é regulado através de dois mecanismos independentes: o sistema circadiano, através do qual o corpo se sincroniza com o ritmo do dia e da noite, predispondo-se a estar acordado com a luz e a dormir com a escuridão, e o sistema homeostático, sensível à actividade desenvolvida durante o dia e ao momento em que é necessário descansar.
Mas, enquanto o sistema circadiano é bastante conhecido e compreendido, muito pouco se sabe ainda sobre o sistema homeostático, explica uma nota da Universidade de Oxford.
Segundo Diogo Pimentel, o ponto de partida para este trabalho foi perceber a necessidade de dormir todas as noites, levando as pessoas a passar um terço da vida a dormir.
“Há um custo enorme, custa-nos o tempo, estamos desligados do mundo exterior, estamos vulneráveis”, diz o investigador.
“Mas o motivo pelo qual precisamos de dormir continua um mistério”, conclui Pimentel, “e é aliás um dos grandes mistérios das neuro-ciências“.
ZAP / Lusa