Uma equipa de cientistas mexicanos e holandeses documentou pela primeira vez a entrada de microplásticos na cadeia alimentar terrestre, graças a um estudo de campo desenvolvido na reserva da biosfera de Los Petenes, no México.
Apesar de há anos existirem estudos sobre a entrada do plástico na cadeia alimentar marinha, este é o primeiro estudo a documentar o fenómeno no meio terrestre, explicou esta terça-feira à Agência EFE a cientista mexicana Esperanza Huerta.
Huerta, investigadora do centro de pesquisa El Colégio da Fronteira Sul, em Campeche, no México, apresentou na EGU 2017, a reunião anual da União Europeia de Geociências, em Viena, o resultado de um novo estudo, desenvolvido em conjunto com a Universidade de Wageningen, na Holanda.
A investigadora explicou que, devido à falta de recolha e gestão dos plásticos, os habitantes da zona de Los Petenes queimam-nos e enterram-nos no chão das suas hortas, o que aumenta o risco de microfragmentação dos plásticos.
Para avaliar a situação, os investigadores analisaram o solo, as minhocas, e as fezes e moelas de galinhas domésticas de dez hortas da reserva mexicana.
Assim, foi possível documentar a presença de plásticos de tamanho diminuto na terra, dentro das minhocas e nas fezes e moelas das galinhas analisadas, o que permite supor um risco para a saúde humana. “Este é o primeiro trabalho feito em sistemas terrestres que mostra como o plástico entra na cadeia alimentar“, explicou Huerta.
“Não sei por que não foi feito antes, acredito que talvez não houvesse consciência da necessidade de o fazer”, acrescentou a investigadora, que considerou que as pessoas não sabiam do potencial perigo destes microplásticos na cadeia alimentar terrestre.
Segundo Huerta, as minhocas, ao digerirem o plástico, ajudam também a fracioná-lo, e a substância passa então para as galinhas que se alimentam delas.
As galinhas contaminam-se directamente porque debicam os plásticos que estão junto com os restos de comida, explicou a investigadora.
Huerta assegura que, dado que Los Petenes é uma reserva da biosfera e os seus habitantes recebem educação ambiental, é possível que em outros meios a situação seja até pior. O grande problema é o costume de queimar os plásticos, o que agrava a contaminação.
“As pessoas pensam que ao queimar o plástico resolveram o problema. Mas a situação é que então passa a estar acessível aos invertebrados do chão, e se for acessível para eles, é também para o resto da cadeia alimentar. Para as galinhas, por exemplo”, explica.
“E as pessoas comem galinhas“, resume Esperanza Huerta.
Segundo Huerta, as moelas de galinha analisadas têm significativas concentrações de microplásticos, e as moelas são utilizadas em diferentes pratos mexicanos.
A investigadora realça que as pessoas com as quais falou confessaram não limpar as moelas por dentro, que apenas as lavavam por fora e depois as coziam – uma prática que tem um efeito preocupante.
A investigadora concluiu sublinhando que, embora o acesso ao plástico tenha em muitos aspectos melhorado a vida das pessoas, a sua degradação difícil é um grande problema – e deveria haver legislação internacional para evitar problemas de saúde pública.
// EFE