Guerra na Ucrânia fez renascer “cidades-fantasma” na Alemanha

Karl-Heinz Meurer / Wikimedia

Casa em Morschenich, na Alemanha

A Guerra na Ucrânia faz renascer “cidades-fantasma”, na Alemanha. Outrora esvaziadas para dar lugar à extração de carvão, vilas do oeste do país estão a ser casa de refugiados ucranianos, que fugiram do conflito com a Rússia.

No estado da Renânia do Norte-Vestfália, no oeste da Alemanha, a companhia de energia RWE despejou milhares de habitantes das suas cidades, para dar lugar à extração de carvão mineral, nos arredores, já há mais de 40 anos.

No entanto, recentemente, o futuro desses lugares tornou-se incerto, depois de o governo alemão ter decidido eliminar o carvão da matriz energética do país.

Agora, essas “cidades-fantasma” dão abrigo a refugiados ucranianos.

Os planos mais recentes, confirmados pela RWE à DW, dão conta que a Alemanha se comprometeu a eliminar completamente as fábricas de energia a carvão até 2038, como parte dos esforços para reduzir as emissões de carbono.

“A pedido das autoridades locais, disponibilizamos as casas e apartamentos, que havíamos comprado anteriormente de famílias realojadas, para pessoas que precisavam urgentemente de um teto”, disse o porta-voz da RWE.

Duas das “cidades-fantasma” são Morschenich e Manheim, próximas à mina de Hambach, aberta em 1978 e com previsão de fecho em 2030.

Se abrirmos o Google Maps, podemos ver que, naquela região, a contrastar com as áreas verdes do mapa, há três grandes e pálidas áreas.

Denis e Julia (nomes falsos) são um casal ucraniano que está a viver em Morschenich.

Contam à DW que chegaram em dezembro de 2022. A casa, outrora habitada por uma única família, é hoje uma espécie de mini-abrigo de refugiados, onde também vivem sírios e uma outra família ucraniana da região do Donbass.

“Temos luz elétrica, água, aquecimento, até Wi-Fi e internet móvel. Conseguimos ligar para casa, na Ucrânia. As autoridades locais vêm todas as semanas ajudar-nos com a papelada. Recebemos ajuda do Estado com regularidade. A única coisa que não tivemos ainda são aulas de alemão”, disse Denis.

“Quando chegámos, não percebíamos bem. Depois é que alguém nos explicou onde estávamos. Em casa, na Ucrânia, estivemos sob fogo cruzado por três meses, e aqui é tranquilo”, contou.

Escola transformada em abrigo

Não muito longe dali, perto de outra mina a céu aberto chamada Garzweiler II, fica a localidade de Keyenberg, cujos antigos moradores também foram despejados.

À primeira vista, parece igual às outras “cidades-fantasma” abandonadas. no entanto, pode encontrar-se uma escola, que abriga vários refugiados.

“Ainda há moradores em Keyenberg, mas cerca de 80% mudaram-se depois de receber compensação. Cerca de 15-20% ainda estão aqui”, disse à DW Irina Becker, conselheira na cidade vizinha de Bochum e membro do comité local de integração.

“Também há refugiados a viver aqui atualmente”, continua Becker.

“A antiga escola foi adaptada para eles. Várias casas também servem de alojamento. Têm luz elétrica, água e aquecimento. Oferecemos cursos de alemão e de integração aos refugiados, e as crianças estão vão para a pré-primária”, acrescentou.

Uma família ucraniana contou à DW que estavam na Polónia, mas, através das redes sociais, descobriram que poderiam ir para Bochum; e, de lá, seriam enviados a uma para Düsseldorf ou Colónia. Acabaram por ir parar a Keyenberg.

Dizem estar felizes ali. Por enquanto, estão sozinhos no imóvel que habitam, mas devem ter a companhia de outra família ucraniana em breve. Enquanto houver guerra na Ucrânia, não querem regressar ao país, e podem ficar na Alemanha mesmo que o conflito acabe.

“Vamos ver. Por enquanto, está tudo bem. A vila não será demolida. Talvez fiquemos aqui, se nos deixarem”, anteciparam.

ZAP // DW

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