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Há suspeitas de “ciberguerra” com dedo da Rússia no ataque à Vodafone

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Especialistas acreditam que o ataque à Vodafone pode ter sido feito por “agentes estatais” russos numa “acção de ciberguerra” no âmbito da tensão com a NATO por causa das suas bases na Ucrânia. Outros membros da NATO estarão também a ser alvo de ataques.

A Vodafone ainda não está a funcionar em pleno depois do ataque informático de que foi alvo e que afectou mais de 4 milhões de pessoas, incluindo os serviços do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) e dos multibancos.

Não houve lugar a pedido de resgate, nem à retirada ou destruição de dados, o que indicia que o ataque terá sido feito para “desestabilizar e interromper” numa “demonstração de força”, como refere o especialista em cibersegurança José Tribolet, professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico (IST), em entrevista ao jornal I.

“Todos os estados membros da NATO estão a ser sujeitos a ataques deste tipo”, aponta ainda Tribolet, admitindo a ideia de que o ataque à Vodafone pode ter sido “geoestratégico e militar no quadro da tensão entre Rússia e Ocidente”.

Investigadores e analistas da polícia e das Forças Armadas ouvidos pelo Correio da Manhã (CM) referem também que é possível que os piratas que fizeram o ataque sejam “agentes estatais numa acção de ciberguerra”.

Assim, a situação enquadrar-se-ia num “movimento da guerra híbrida” da Rússia, uma vez que não há indícios de um “interesse económico, de fazer lucro, mas apenas de destruir e paralisar o alvo”, como refere uma das fontes ouvidas pelo CM.

Já ocorreram ataques semelhantes noutros países, visando infraestruturas económicas e comerciais. A própria Ucrânia já foi alvo de ataques russo, em 2015 e em 2016, que afectaram a rede eléctrica do país, com os hackers a tomarem conta de várias estações e a desligarem a energia.

“No ciberespaço estamos em guerra há muitos anos”

Em Portugal, a PJ está a investigar o ataque à Vodafone com o apoio das secretas e da Interpol, o que indicia a participação de um grupo internacional de piratas.

Tribolet nota, em declarações ao I, que há uma “alta probabilidade” de o ataque estar relacionado com o “momento de tensão geopolítica e militar em que Portugal está envolvido porque é membro da NATO e tem forças empenhadas activamente na defesa do Ocidente na sua fronteira com a Rússia”.

O especialista em cibersegurança refere que “tem havido regularmente ataques nos países do Báltico que pertencem à NATO, como Estónia e Lituânia, e a Ucrânia tem sido todos anos sujeita a ataques massivos às suas infraestruturas“, visando “operadoras de telecomunicações”, “serviços de energia, água, transportes, estruturas vitais”, portanto.

“Não estamos em guerra aberta mas no ciberespaço já estamos em guerra há muitos anos”, realça ainda Tribolet, frisando que o ataque à Vodafone parece típico daqueles que visam “atingir infraestruturas críticas, como na Segunda Guerra Mundial víamos os ataques em que rebentavam com pontes nas estradas, com os reservatórios de petróleo e gasolina”.

Ataque à Vodafone “pode ser um ensaio”

E se Portugal não é um país muito importante em termos geoestratégicos, a Vodafone é “uma companhia mundial com serviços em todo o Ocidente” e “isto pode ser um ensaio”, admite o professor do IST.

“Não acredito que uma companhia com a capacidade técnica e financeira e a responsabilidade da Vodafone possa ser penetrada por um conjunto de hackers que estejam a brincar“, diz ainda Tribolet, realçando que “foi um ataque à rede” e “não para roubar dados de clientes”.

“Há uns anos alertei que era relativamente fácil destabilizar o país e deitar um Governo abaixo. Era a coisa destas que me que estava a referir”, diz ainda Tribolet, notando que se os hackers tivessem “atacado as três empresas [de telecomunicações] ao mesmo tempo, estávamos num grau de perturbação nacional exponencialmente superior”.

O professor não duvida que esta situação tem de ser “um alerta a sério para os responsáveis nacionais” das “instituições todas do país”, para “perceberem que todas as questões de informática e cibersegurança são estruturais da vida em sociedade”.

Assim, “tem de haver uma coligação de competências articulada sob um comando único“, defende, concluindo que a actual “divisão entre defesa militar e defesa civil é do século passado”.

Susana Valente, ZAP //

2 Comments

  1. Isto foi um teste! Tem todos os sinais disso mesmo. Quem fez isto, deve estar a preparar-se para fazer o mesmo em um dia calculado, mas em todos os provedores e servidores de telecomunicações.

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