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China boicota vendas da H&M por esta recusar usar algodão de Xinjiang (que é colhido por uigures)

O Partido Comunista está a impulsionar um boicote à marca de roupa H&M por esta se ter recusado a usar algodão de Xinjiang – província onde vivem milhões de uigures e que é responsável pela produção de 85% do algodão da China.

A Liga da Juventude Comunista, uma divisão do partido, atacou a marca sueca de fast fashion através de vários posts no Weibo, acusando-a de mentir sobre os abusos de direitos humanos em Xinjiang.

“A marca está a inventar mentiras e a boicotar o algodão de Xinjiang e quer ganhar dinheiro na China ao mesmo tempo?” escreveu a liga juvenil numa das publicações partilhadas. Os posts têm gerado uma onda de ódio contra a marca sueca.

Contudo, a H&M não é a única empresa de fast fashion a assumir esta posição. Diversas marcas internacionais prometeram interromper a compra de algodão de Xinjiang, que produz cerca de um quinto do algodão mundial, sob alegações de trabalho forçado.

Neste sentido, os media estatais lançaram um ataque à H&M, ao mesmo tempo que o Governo criticava as novas sanções impostas pelos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e Canadá por abusos de direitos humanos em Xinjiang.

Na quarta-feira, o termo de pesquisa “H&M” gerou zero resultados no Taobao, o site de compras mais popular da China. Questionada pelo VICE, a empresa controladora do site, a Alibaba, não respondeu a um pedido de comentários.

Também os embaixadores da H&M na China, as celebridades Huang Xuan e Victoria Song, emitiram declarações a dizer que tinham parado de colaborar com a marca. As declarações das estrelas chinesas referem que são contra atos que visam difamar a China.

Paralelamente, alguns utilizadores da internet também pediram um boicote a outras marcas que se comprometeram a evitar o uso do algodão Xinjiang, como é o caso da Uniqlo, da Nike e da Gap.

Num mundo cada vez mais globalizado, e onde as grandes cadeias de fast fashion têm grande parte da sua produção no país, as decisões de boicote apoiadas pelo Estado estão a colocar as empresas entre a espada e a parede e as marcas terão de escolher um lado: ou continuar com os negócios na China, ou atender aos requisitos éticos.

Por exemplo, a empresa chinesa de roupas desportivas Anta Sports já tomou uma posição. A marca anunciou no Weibo que deixaria a Better Cotton Initiative (BCI) – um grupo sem fins lucrativos que fornece credenciais de sustentabilidade às empresas – e que iria permanecer com a sua atividade no país. “Sempre compramos e usamos algodão das regiões de produção chinesas, incluindo o algodão de Xinjiang”, referiu a empresa.

Até ao momento, a H&M não se pronunciou sobre o assunto.

Segundo alguns órgãos de comunicação locais, mais de meio milhão de pessoas de grupos étnicos minoritários da região de Xinjiang, na China, estão a ser forçados a trabalhar na apanha do algodão. A escala de trabalhos forçados é muito maior do que aquela inicialmente prevista.

Este tipo de trabalhos fazem parte do programa de “mitigação da pobreza” levada a cabo pelo governo chinês, o que impulsionou várias sanções por parte do ocidente ao país asiático.

Pequim alega que apenas criou “centros de prática vocacional” em Xinjiang, que educou as minorias étnicas e livrou-as da pobreza, considerando que as alegações de abusos foram feitas por políticos e académicos anti-China.

Ana Isabel Moura, ZAP //

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