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Minorias forçadas a apanhar algodão na China. São obrigadas a dormir em fábricas e a ter “aulas” de ideologia

Mais de meio milhão de pessoas de grupos étnicos minoritários da região de Xinjiang, na China, estão a ser forçados a trabalhar na apanha do algodão. A escala de trabalhos forçados é muito maior do que aquela inicialmente prevista.

O assunto é divulgado por um novo relatório do Center for Global Policy, um think tank, norte-americano citado pelo jornal The Guardian.

A região de Xinjiang produz mais de 20% de todo o algodão mundial e a esmagadora maioria (84%) do algodão da China. Contudo, o relatório afirma que o algodão é conseguido através de múltiplas falhas no cumprimento dos direitos humanos, uma vez que na região se assiste ao trabalho das minorias uigur e outras etnias minoritárias.

Segundo alguns órgãos de comunicação locais, estes tipo de trabalhos fazem parte do programa de “mitigação da pobreza” levada a cabo pelo governo chinês, porém o relatório apresentado sugere que a maior parte destes trabalhadores são forçados a trabalhar nos campos.

Escrito por Adrian Zenz, um investigador independente que se tem especializado na região de Xinjiang e do Tibete, o relatório foi elaborado através da análise de documentos governamentais e notícias dos meios de comunicação estatais.

Com o seu trabalho de investigação, Zenz concluiu que as autoridades estavam a recorrer a trabalho coercivo para obrigarem centenas de milhares de trabalhadores a apanharem algodão, uma tarefa que remete para os tempos de escravatura nos Estados Unidos, altura em que milhares de negros foram explorados por também trabalharem nesta área.

Nos últimos anos a apanha do algodão tem-se desenvolvido bastante, uma vez que grande parte do trabalho noutras regiões chinesas já é feito com grande recurso a máquinas. Ainda assim, nas áreas mais a sul de Xinjiang, a predominância do trabalho ainda é feita por mãos humanas e o relatório revelam que é cada vez mais intenso o uso de minorias étnicas.

Mesmo assim, este tipo de trabalho parece ser um motivo de orgulho para a China. O governo publica, de forma regular, nos seus órgãos de comunicação social notícias que enaltecem o trabalho criado para ajudar milhares de pobres daquela região. Esses artigos dão pistas sobre as condições me que vivem estes “trabalhadores voluntários” que vão para longe de casa, são obrigados a dormir em fábricas e sujeitos a “aulas” de ideologia.

De acordo com o jornal britânico, o relatório cita uma notícia publicada num dos jornais do regime onde se pode ler que um dos trabalhadores “conseguiu, gradualmente, superar as desvantagens de não ter uma terra para cultivar, ultrapassar o seu comportamento preguiçoso, falta de motivação interior e pouca prática em sair para trabalhar”. Todos estes defeitos foram vencidos ao ir trabalhar para a apanha de algodão em Xinjiang.

Têm sido várias as acusações ao regime chinês sobre a forma desumana como trata as minorias uigur.

Em março desta ano, um relatório do Instituto Australiano de Políticas Estratégicas (ASPI) revelou que pelo menos 80 mil pessoas da minoria muçulmana uigur foram transferidos de centros de “reeducação” em Xinjiang, na China, para fábricas que fornecem produtos para várias marcas internacionais.

Nike, Adidas, Apple, BMW, Huawei, Samsung, Sony, Volkswagen e Sony foram algumas das 83 marcas assinaladas. Segundo o relatório apresentado na altura, as condições em que às quais os trabalhadores estavam expostos “sugerem fortemente trabalho forçado”.

Também em agosto, o Buzzfeed News comparou aplicações de mapeamento ocidentais e chineses e revelou que Pequim terá apagado imagens de campos, prisões e instalações militares do serviço de mapeamento Baidu.

O Baidu, que oferece um serviço de satélite muito semelhante ao Google Maps, tem sede na China e é frequentemente sujeito a uma censura rigorosa. Contudo, ao verificar os espaços em branco, o BuzzFeed encontrou uma vasta rede de “268 complexos recém-construídos”, muitos dos quais contêm vários centros de detenção.

Por sua vez, a China nega todas as acusações, descrevendo os campos  como centros de treino vocacional que são “essenciais para combater o extremismo religioso”. O país liderado por Xi-Jinping confirmou que por ano passam mais de um milhão de pessoas por estes campos.

O Tribunal Penal Internacional já afirmou que não tem jurisdição para investigar as alegações de crimes contra a humanidade e genocídio em Xinjiang.

AMM // ZAP

 

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