Jose Manuel Moller, é um jovem chileno de 26 anos que diz não querer salvar o mundo, mas que pode fazer uma grande diferença com uma máquina por ele criada para diminuir o custo de produtos de necessidade básica nos bairros mais pobres do Chile.
Moller apresentou a sua invenção na TEDGlobal, conferência que reúne projetos e ideias inovadoras, a decorrer no Rio de Janeiro.
O dispositivo funciona como uma máquina de café, mas “serve” produtos como arroz, feijão, lentilhas e sabão em pó em embalagens plásticas.
Estas embalagens são feitas num único formato e podem ser compradas no em pequenos supermercados e reutilizadas quantas vezes for possível, sempre para o mesmo produto.
O preço de 500 gramas do produto comprado na máquina é, em média, de 500 pesos chilenos (0.66 euros) – cerca de 40% menos do que o preço normal nos armazéns de bairro, de acordo com Moller.
“A venda a granel sempre existiu. Mas esse modelo tinha um problema, a higiene. Depois, veio o marketing, e as pessoas passaram a comprar produtos pelas marcas.
“O que pretendemos fazer é reposicionar a venda a granel em relação à venda feita nos grandes supermercados, usando a tecnologia. É absurdo que as pessoas paguem muito dinheiro por uma embalagem que vão deitar fora depois.”
Taxa de pobreza
A máquina é vendida pela empresa criada por Moller, a Algramo, que venceu no Chile uma série de concursos de startups, e deve chegar a expandir-se em breve para a Colômbia.
A ideia surgiu no âmbito de um trabalho durante o curso de Engenharia Comercial – o equivalente a um curso misto de economia e administração de empresas, no Chile.
“Quando era estudante, fui morar num bairro da periferia de Santiago. Não era para ajudar ninguém ou salvar o mundo. Queria apenas viver do outro lado e entender os problemas do dia-a-dia”, disse Moller, de 26 anos, à BBC.
“Vivia com amigos numa casa. Tínhamos pouco dinheiro. Por isso, comprávamos comida e produtos de limpeza semanalmente, em quantidades pequenas. Era o que podíamos pagar.”
Moller percebeu que este hábito era muito comum na maioria das famílias que viviam em zonas pobres. No entanto, isto acabava por ter um peso maior no orçamento mensal.
“No fim do mês, pagávamos muito mais pelo óleo de cozinha do que se comprássemos uma embalagem maior.”
Moller diz que essa disparidade, que ele apelida de “taxa de pobreza“, atinge a maior parte dos produtos de armazéns de bairro e afeta 70% da população chilena.
“A economia usa o argumento da conveniência. Se uma pessoa está com pressa e precisa do produto naquele momento, então, compra-o num formato pequeno e, por isso é-lhe cobrado mais”, explica.
“Mas isso não é uma economia de conveniência, é uma economia de sobrevivência. Muitas famílias só conseguem comprar aquele formato naquele dia. Isso produz a injustiça: as pessoas que têm menos pagam mais por coisas básicas.”
‘Onde está o truque?’
O jovem empresário chileno sublinha que o objetivo não é “mudar completamente os hábitos de consumo das pessoas”.
“Somos uma empresa, não uma fundação. Queremos criar outro modelo de negócio.”
O “novo modelo” ainda não amedronta as grandes superfícies, mas já causou alguma suspeita nos donos de supermercados locais.
“No início, apresentava-lhes a ideia como um projeto universitário para que me aceitassem”, relembra Moller.
“Não cobro nada para instalar a máquina. Como as famílias pagavam menos e os donos dos supermercados ganhavam mais, eles perguntavam-me: ‘Onde está truque?’ Mas não há qualquer truque.”
As máquinas do Algramo já estão em cem supermercados dos cerca de 60 mil que existem em Santiago. Moller quer levá-las a toda a América Latina nos próximos dez anos.
ZAP / BBC