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Chegaram os thanabots. A morte já não é o que era

ZAP // Rawpixel; Pixabay

O ChatGPT está a tornar possível ressuscitar digitalmente os mortos sob a forma de thanabots: chatbots treinados com dados de pessoas falecidas. É o caso do Project December, que permite já inserir informações sobre uma pessoa e criar um chatbot personalizado com base nessa pessoa.

O ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI, está a permitr a criação de “thanabots” — chatbots modelados com dados de pessoas falecidas — permitindo aos utilizadores comunicar com versões digitais dos seus entes queridos que partiram.

Esta inovação tem fascinado e alarmado simultaneamente a comunidade científica, levantando questões sobre ética, gestão do luto e a autenticidade de tais interações.

O conceito destes thanabots surgiu com o lançamento do Project December, criado pelo programador Jason Rohrer, no qual os utilizadores podem inserir dados e informações para criar chatbots personalizados com base em pessoas reais, incluindo aquelas que faleceram.

O termo “thanabot” deriva de tanatologia, o estudo da morte, e representa uma nova fronteira na interação humana com a tecnologia, explica o Big Think.

Como qualquer bom nerd, Rohrer começou por criar uma personalidade baseada em Spock, o icónico vulcano da saga Star Trek, para criar o seu primeiro thanabot.

Segundo o fundador do Project December, qualquer pessoa específica pode ser emulada num thanabot, mesmo pessoas fictícias ou falecidas — desde que haja dados e registos de conversas suficientes sobre a pessoa para alimentar o bot.

Um exemplo comovente, relatado pelo jornalista Jason Fagone, do San Francisco Chronicle, é o de Joshua Barbeau, um freelancer de 33 anos que criou um thanabot com a personalidade da sua falecida noiva, descrevendo uma experiência emocional impressionante.

Um outro exemplo de como os thanabots estão a mudar a forma como nos relacionamos com a morte — ou, pelo menos, com as memórias dos nossos entes queridos — surge da China, onde as funerárias estão a usar o ChatGPT e o gerador de imagens Midjourney para imitar a personalidade, a aparência, a voz e até as memórias de pessoas falecidas.

Leah Henrickson, professora na Universidade de Queensland, considera que os thanabots vão tornar-se omnipresentes nas próximas décadas, com potenciais benefícios — como um maior apoio para os que estão de luto e novas perceções sobre a compreensão cultural da morte.

No entanto, Henrickson realça também preocupações importantes a ter em conta —, como a possibilidade de criação de thanabots sem consentimento do falecido, ou a possibilidade de um thanabot não representar com exatidão a pessoa.

Além disso, diz a investigadora, que em janeiro publicou um estudo sobre o tema na Media, Culture & Society, interagir com estas representações digitais pode não proporcionar o alívio emocional esperado e, em vez disso, intensificar sentimentos de tristeza e desespero.

Apesar destas preocupações, a inovação representa um salto extraordinário no papel da tecnologia nas nossas vidas — e abre a porta a uma estranha nova era, em que a morte pode deixar de ser o desfecho derradeiro que até agora era.

Armando Batista, ZAP //

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