Entre as Ilhas Shetland do Sul e a Península Antártica encontram-se as águas geladas do Estreito de Bransfield, e nele uma ilha única e enganadora que foi batizada como Deception quase desde o momento em que foi descoberta.
Foi Nathaniel Palmer, capitão de um navio baleeiro americano, que em 1821 deu o nome de Deception (“engano”, em inglês) ao descobrir que o que à distância parecia uma ilha tinha na realidade uma lagoa interior.
É possível que Palmer tenha sido a primeira pessoa a avistar a ilha, embora Edward Bransfield e Fabian Gottlieb von Bellingshausen também navegassem pela zona naquela época, sendo os três considerados co-descobridores da Antártida.
Na realidade, a lagoa é a caldeira inundada de um vulcão que ainda está ativo: a sua erupção mais recente ocorreu em 2015, conta o LBV.
A caldeira, que colapsou há milhares de anos e ficou submersa, forma um porto natural chamado Port Foster, cuja entrada tem cerca de 500 metros de largura e é espetacularmente flanqueada por penhascos cobertos de gelo.
A ilha que rodeia esta lagoa interior tem forma de ferradura, com um diâmetro máximo de 15 quilómetros e uma elevação máxima de 539 metros no Monte Pond.
A maior parte do terreno está coberta por glaciares com cerca de 10 metros de espessura, que se encontram sobre os restos piroclásticos de antigas erupções vulcânicas.
No século XX, a ilha tornou-se um importante centro baleeiro, com empresas norueguesas e chilenas a estabelecerem fábricas de processamento onde toneladas de gordura de baleia eram derretidas. Numerosos vestígios desta indústria agora abandonada ainda são visíveis: tanques enferrujados, ossos de cetáceos e até mesmo um hangar abandonado.
Depois da partida dos baleeiros, foram estabelecidas na ilha bases científicas de vários países, incluindo Argentina, Chile, Espanha e Reino Unido.
As bases chilena e britânica foram destruídas por uma violenta erupção vulcânica em 1967 e abandonadas. Hoje, apenas a Base Decepción argentina e a Base Gabriel de Castilla espanhola operam durante o verão.
Apesar do seu perigo, a ilha é um destino turístico que atrai mais de 15.000 visitantes por ano. Aqueles que conseguem chegar até lá podem caminhar entre colónias de pinguins, explorar os restos das antigas estações baleeiras e estações de investigação abandonadas, e banhar-se em fontes termais naturais simplesmente cavando buracos na areia aquecida pelo vulcão.
É provavelmente o único lugar no mundo onde se pode nadar — e, claro, navegar — dentro da caldeira de um vulcão que ainda está ativo, com todo o risco e emoção que isso implica para aqueles que gostam de desafiar o destino.
Mas a ilha é também um santuário natural, com onze zonas terrestres protegidas e duas áreas marinhas sob o Sistema do Tratado Antártico, devido à sua biodiversidade única e valor ecológico e botânico. Numerosas espécies de plantas vivem lá que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do planeta.
Um evento singular ocorreu a 27 de novembro de 2006, quando o navio de cruzeiro russo MV Lyubov Orlova encalhou na ilha e teve de ser rebocado pelo quebra-gelo Las Palmas da Marinha espanhola.
Anos mais tarde, esse mesmo navio estava a ser rebocado para a República Dominicana para ser desmantelado, quando o cabo se partiu, e o navio entro em deriva, perdendo-se para sempre. Não se sabe se afundou ou se ainda navega como um navio fantasma.