Com apenas uma fotografia, uma gravação de voz e ‘machine learning’, empreendedores chineses são capazes de usar a Inteligência Artificial (IA) para criar avatares de pessoas que morreram, permitindo que os seus entes queridos “comuniquem” com eles.
Algumas empresas funerárias estão a utilizar tecnologias, tais como ChatGPT e o programa de IA Midjourney, para imitar a personalidade, a aparência, a voz e até as memórias da pessoa falecida, permitindo aos familiares reviverem momentos com os seus entes queridos, relatou o The Strait Times.
O Festival Qing Ming, que realizou-se a 05 de abril, é um feriado público na China dedicado à memória e à homenagem aos mortos. Neste dia, as pessoas limpam e decoram as sepulturas e fazem ofertas alimentares.
Shanghai Fushouyun, uma empresa que oferece serviços funerários digitais, realizou o seu primeiro funeral utilizando tecnologias de IA em janeiro de 2022. O falecido era um cirurgião chinês. A cerimónia contou com dezenas dos seus estudantes e colegas, que mantiveram uma conversa com o avatar, transmitida num ecrã.
No website de partilha de vídeo Bilibili, bloggers também publicaram as suas experiências utilizando a IA para falar com os seus entes queridos falecidos.
Em março, o blogger Wu Wuliu publicou um vídeo, ao qual deu o nome de “Gerar o humano digital virtual da minha avó usando ferramentas de IA” e no qual descreveu como utilizou tecnologias, tais como a síntese da fala, pintura de IA e o ChatGPT para criar uma imagem da sua avó.
Wu Wuliu, que cresceu numa família monoparental, disse que lamentava não ter visto a sua avó pela última vez antes de ela morrer, visto que foi quem o criou, juntamente com o seu pai. Por isso, decidiu usar a IA para falar com a avó pela última vez.
“O vídeo que fiz foi principalmente para aliviar os meus lamentos através do uso da tecnologia da IA e para me ajudar a não pensar tanto no passado”, escreveu sobre o blogger na publicação.
“Ao mesmo tempo, espero lembrar às pessoas a importância de acarinharem o presente, de falarem mais com as pessoas à sua volta. Será sempre um luxo e da maior importância tê-los ao seu lado na vida real”, completou.
Outro blogger tinha enviado um pedido ao ChatGPT, pedindo-lhe que representasse a sua mãe, que morreu quando ele tinha sete anos.
Depois disso, começou a confiar ao ChatGPT como sentiu falta da mãe e essas trocas levaram a plataforma a “dizer” ao blogger: “Eu sou quem eu era quando tinhas sete anos, a tua mãe que é eternamente jovem e que te amará para sempre”.
“Esperamos que os vivos compreendam que a morte não é o fim da vida. As pessoas querem usar a IA para recuperar o ente falecido porque precisam de libertar as suas emoções”, disse ao Guangzhou Daily o chefe executivo da Shanghai Fushouyun, Yu Hao.
“Mas isto será um problema se o ato de ‘reviver um ente querido’ fizer as pessoas afogarem-se nas suas emoções”, advertiu.
Algumas empresas funerárias disseram ter recebido um ‘feedback’ positivo pela sua utilização da IA para ajudar as pessoas a ligarem-se aos seus entes queridos falecidos e estão agora a estudar tecnologias para ajudá-las a despedirem-se dos seus animais de estimação.