O Chega criticou esta segunda-feira o discurso do 5 de outubro do Presidente da República, afirmando que Marcelo Rebelo de Sousa apostou numa “mensagem vaga de defesa da liberdade” e “sem nada de palpável para os portugueses”.
“Esperava-se uma mensagem dirigida à crise, às dificuldades das famílias e empresas, e à prepotência da atuação do Governo (como se viu no afastamento do Presidente do Tribunal de Contas)”, afirmou o líder e deputado único do Chega, André Ventura, num breve comunicado em reação ao discurso de Marcelo Rebelo de Sousa na cerimónia comemorativa do 110.º aniversário da Implantação da República.
Em vez disso, na opinião do líder do Chega, o chefe de Estado português “apostou na mensagem vaga de defesa da liberdade, contra as ‘ditaduras’, sem nada de palpável para os portugueses”. Classificando Marcelo Rebelo de Sousa como o Presidente da República “mais comprometido com um Governo de que há memória em Portugal”, André Ventura, pré-candidato às eleições presidenciais de janeiro de 2021, concluiu que o discurso do chefe de Estado foi “uma mensagem igualmente servil e cúmplice do executivo”.
Esta segunda-feira, na cerimónia comemorativa do 110.º aniversário da Implantação da República, o Presidente da República apelou à unidade no essencial na resposta à crise provocada pela covid-19, com equilíbrio entre proteção da vida e da saúde e da economia, e sem dramatização a mais nem a menos.
Marcelodeixou esta mensagem, em Lisboa, defendendo que é preciso “continuar a compatibilizar a diversidade e o pluralismo com a unidade no essencial”.
“O que nos diz este 5 de Outubro é que temos de continuar a resistir, a prevenir, a cuidar, a inovar, a agir em liberdade, a saber compatibilizar a diversidade com a convergência no essencial, a sobrepor o interesse coletivo aos meros interesses pessoais”, afirmou o Presidente, frisando igualmente que as ditaduras não resolverão a atual crise. “Vamos continuar a agir em liberdade, porque não queremos ditaduras em Portugal”, disse.
Elogios do PSD e PS
O PSD considerou que Marcelo fez “um discurso muito institucional e muito adequado ao momento”, no qual os sociais-democratas se reveem “integralmente” porque apela à “consensualização e sentido de responsabilidade” de todos os agentes políticos.
“É muito importante que todos percebamos que a questão sanitária durará, esperamos nós, o menor tempo possível. Mas a questão económica que se sobreporá durará muito mais. É muito importante que exista consensualização, sentido de responsabilidade e sobretudo um poder de fiscalização enormíssimo”, disse o vice-presidente do PSD André Coelho Lima já na fase em que respondia a perguntas dos jornalistas.
Antes, o deputado social-democrata, que reagiu em nome do PSD, disse que o PSD se “revê-se integralmente nas palavras” do Presidente da República, o qual fez “um discurso muito institucional e muito adequado ao momento que vivemos”.
Também os socialistas elogiaram o discurso. O secretário-geral adjunto do Partido Socialista (PS) considerou esta segunda-feira que o apelo do Presidente da República à ética republicana e à convergência significa colocar o interesse público acima de interesses individuais, como no Orçamento do Estado.
“O facto de o senhor Presidente da República ter sublinhado por várias vezes a importância de cultivarmos a ética republicana, isso significa colocarmos à frente dos interesses particulares, partidários ou individuais o interesse público, o interesse da República. Ora, é por considerarmos que a aprovação do Orçamento do Estado corresponde a esse interesse público e da República que consideramos que a mensagem do senhor Presidente da República, ao apelar à convergência – naturalmente no respeito pela diversidade, pelo pluralismo político, nas ideias, pela diversidade nas opiniões – para salvaguardar o interesse geral, que é o interesse da República, é bastante relevante”, disse José Luís Carneiro em declarações à Lusa.
O secretário-geral adjunto do PS considerou que a mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa foi de “grande responsabilidade e confiança no futuro” ao destacar os sete meses de cooperação entre os portugueses e as instituições e ao falar da importância de todos terem “sentido de responsabilidade nas atitudes individuais e coletivas”.
BE diz que tem “algumas respostas”
O líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) defendeu que o partido tem apresentado, nas últimas semanas, “algumas respostas” para a crise que o Presidente da República diagnosticou no discurso do Dia da Implementação da República.
“Este discurso teve três ideias fortes. Um apelo a uma resposta forte à crise pandémica, mas também social e económica. A indicação de que estas respostas à crise não podem ser apenas para os privilegiados e, uma nota que decorre desta, uma rejeição dos compadrios e da corrupção”, analisou Pedro Filipe Soares.
“Em particular na preparação do Orçamento do Estado para 2021, porque todos percebemos que esta crise não pode deixar o país com os mesmos problemas estruturais que já tinha, não pode deixar o país com a fragilidade das relações de trabalho, que já era um problema que tinha de ser corrigido, que o reforço dos serviços públicos é a garantia que ninguém fica sem cuidados de saúde”, defendeu,
E acrescentou que “o ‘ganguesterismo’ financeiro não pode continuar a ser recompensado e que, no momento que existe uma enorme pressão económica se transforme também numa enorme crise social, ninguém pode ser deixado para trás”.
O CDS, pela voz do seu líder, saudou o discurso do 5 de Outubro do Presidente da República, considerando que pediu cautelas éticas na aplicação de fundos europeus, contra a “corrupção, clientelismos e compadrios”.
Francisco Rodrigues dos Santos afirmou que, “na opinião do Presidente da República e do CDS-PP, os milhões da Europa não podem ir parar às mãos dos privilegiados, de empresas amigas do Governo, mas sim aos que mais precisam”.
“Saudar as importantes e oportunas palavras do senhor Presidente da República, em particular quando sublinhou a necessidade de acautelar valores éticos na aplicação de fundos europeus, impedindo a corrupção, clientelismos e compadrios”, referiu, em declarações aos jornalistas na sede do CDS-PP, em Lisboa.
ZAP // Lusa