Cerveja feita no Espaço pode ser mais saborosa

ZAP // DALL-E-2

Processo de fermentação acelera e a produção de ésteres é reduzida pela levedura no ambiente de microgravidade, o que pode levar a uma cerveja de maior qualidade.

Um novo estudo, centrado no comportamento da Saccharomyces pastorianus (a levedura utilizada para fazer cerveja) em condições de microgravidade simuladas, explorou a forma como a produção de cerveja no Espaço pode melhorar a sua qualidade

Os investigadores, liderados por Pedro Fernandez Mendoza, procuraram perceber as implicações mais vastas dos processos de fermentação em ambientes de microgravidade.

Processo chave na produção de vários produtos alimentares e biocombustíveis, a fermentação foi escolhida para este estudo devido à sua longa história e à riqueza de conhecimentos existentes à sua volta.

A experiência começou com cevada cultivada em Live Oak, na Florida, que foi triturada para criar mosto, o líquido extraído dos grãos. Este mosto foi dividido em seis amostras idênticas, cada uma inoculada com a levedura. Três amostras serviram de controlo, enquanto as outras três foram colocadas num clinostato (um dispositivo que simula a microgravidade) e rodadas continuamente em torno de um eixo horizontal.

Os resultados foram intrigantes. Contrariamente às preocupações de que a microgravidade pudesse prejudicar a atividade da levedura, os investigadores descobriram que o processo de fermentação acelera no ambiente de microgravidade.

Esta aceleração foi atribuída à suspensão constante das células de levedura, que impedia a sua sedimentação e assegurava a máxima disponibilidade de nutrientes.

Um dos resultados mais surpreendentes do estudo, publicado na revista Beverages, foi a redução da produção de ésteres — compostos químicos responsáveis por vários sabores na cerveja — pela levedura exposta à microgravidade.

Embora os níveis de ésteres possam contribuir tanto positiva como negativamente para o perfil de sabor da cerveja, a menor produção de ésteres observada no estudo sugeriu que a microgravidade pode levar a uma cerveja de maior qualidade, uma vez que os sabores indesejáveis foram minimizados.

Os investigadores especularam que a produção reduzida de ésteres poderia estar relacionada com a menor expressão de um gene da levedura responsável pela regulação dos níveis de ésteres.

Andrew MacIntosh, professor associado de ciência alimentar na Universidade da Florida e coautor do estudo, sublinhou, em comunicado, que esta investigação é apenas “a primeira peça do puzzle”.

À medida que a exploração espacial progride, a compreensão e o aproveitamento dos efeitos da microgravidade nos processos biológicos, como a fermentação, podem conduzir a avanços significativos na produção alimentar e noutras indústrias.

Tomás Guimarães, ZAP //

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