O governador do Banco de Portugal admite que o BCE arrisca “fazer demais” se voltar a subir as taxas de juro.
Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal, vai recuperar o seu direito de voto na próxima reunião do Conselho do Banco Central Europeu (BCE), marcada para dia 14 de setembro. Centeno não teve direito de voto na reunião anterior de julho, devido ao sistema de rotatividade adotado pelo BCE, uma cláusula implementada em 2018 para agilizar as tomadas de decisão.
Segundo um documento recente elaborado por Centeno, o governador manifesta preocupações quanto à política monetária do BCE referente à subida dos juros, indicando que o risco de “fazer demais” começa a ser material. Centeno sugere que a inflação tem vindo a diminuir mais rapidamente do que aumentou e que a economia está a ajustar-se às novas condições financeiras, pelo que um novo aumento dos juros pode ser desnecessário.
A próxima reunião poderá decidir uma nova subida da taxa de juro, como parte do esforço contínuo do BCE na luta contra a inflação, que estabilizou em 5,3% em agosto. No entanto, Centeno parece acreditar que o BCE não deve ir muito além no que diz respeito ao aperto da política monetária.
A rotatividade no exercício dos direitos de voto tem criado cenários em que as economias de menor dimensão, como Portugal, frequentemente não participam nas votações. Na próxima reunião, os governadores da Alemanha, Bélgica, Estónia, Irlanda e Grécia também não terão direito de voto. Especula-se que os três primeiros países são a favor de um maior aperto monetário, enquanto os dois últimos são contra, explica o Expresso.
A comunicação também é um dos temas cruciais na política monetária, como destacou Christine Lagarde, Presidente da Comissão Executiva do BCE. Lagarde considera que a comunicação deve ser mais acessível e centrada no cidadão comum da Zona Euro. Centeno, por sua vez, tornou público o seu relatório sobre a atuação do BCE a 10 dias da próxima reunião, contrariando a regra dos sete dias sem declarações à imprensa antes do encontro.
As decisões sobre as taxas de juro terão um impacto significativo, tanto nas economias nacionais quanto nos mercados financeiros. O desfecho será conhecido no dia 14 de setembro, numa reunião em Frankfurt.