Queriam melhorar a qualidade do vegetal e homenagear a família do “Rei da Pátria”. O cruzamento de cenouras roxas com amarelas e brancas acabaria por criar a variedade mais popular do vegetal que nos dá olhos mais bonitos.
As cenouras, conhecidas hoje em dia como um alimento de cor laranja, brilhante e presente em muitas dietas, têm uma história intrigante.
Originárias da antiga Pérsia, as primeiras variedades de cenoura não eram, na verdade, cor-de-laranja, mas sim roxas e essencialmente usadas devido às suas folhas aromáticas e sementes.
À medida que viajavam da Pérsia para a poderosa cidade de Roma, as suas raízes começavam a ganhar popularidade como fonte de alimento.
Registos históricos levam-nos a conhecer a relação humana com as cenouras a partir do século VI d.C., altura em que o médico grego Dioscorides detalhou os três diferentes tipos do legume. Nesse mesmo século, à frente das brancas e amareladas, uma variedade dominante roxa proveniente do Afeganistão estava, lembra o ZME Science, bem estabelecida na Europa, China e Japão.
A transformação da cor da cenoura começaria no final do século com os horticultores holandeses. Numa tentativa de melhorar a qualidade do vegetal, começaram a cruzar cepas mutantes de cenouras roxas com as amarelas e brancas. Com o tempo, o cruzamento resultou no nascimento da cenoura cor-de-laranja e doce que conhecemos hoje.
Curiosamente, essa mudança de cor para laranja foi também uma tentativa dos agricultores holandeses de honrar a Casa de Orange-Nassau, a família real holandesa da época, que desde que o “Rei da Pátria” Guilherme I de Orange liderou a revolta neerlandesa contra a jurisdição espanhola é vista como um símbolo da resistência dos Países Baixos.
A cenoura cor-de-laranja viria a ser um sucesso que não se deveu apenas à sua associação com a realeza holandesa. Tornou-se mais resistente a pragas e o seu sabor alegadamente mais aprimorado.
Embora alguns argumentem que a influência da realeza holandesa na mudança de cor da cenoura possa ser exagerada, os registos — e a zona de hortículas dos supermercados — mostram sem margem para dúvidas que o laranja se tornou a cor dominante da cenoura a partir do século XVII.
A nível químico, a variação de cor é consequência dos pigmentos que a cenoura contém. Cenouras cor-de-laranja têm altas concentrações de caroteno, responsável pelo seu tom brilhante e pela presença significativa de Vitamina A. Em contraste, as cenouras roxas são ricas em antocianinas, antioxidantes presentes em vários frutos e vegetais coloridos. Ao longo do tempo, o cruzamento favoreceu a variedade rica em caroteno sobre a rica em antocianina.
A horticultura moderna continua a explorar a genética da cenoura. Por exemplo, o um centro dedicado à melhoria de vegetais, baseado no Texas, desenvolveu cenouras com pele roxa e polpa laranja, ricas em nutrientes e com potenciais propriedades preventivas contra o cancro — através da seleção cuidada, o potencial da diversificação da cor da cenoura é bastante vasto.
Recentemente, as variedades mais antigas de cenoura roxa e branca têm visto um ressurgimento sob a forma de iguarias gourmet, mas ainda são pouco vistas no mercado. À medida que a inovação em horticultura continua, é possível que vejamos ainda mais cores e variedades de cenouras no futuro, com novos e surpreendentes benefícios.