“Um deserto de genes”. Uma nova descoberta sobre a potencial causa da Doença Inflamatória Intestinal, cujos casos mais comuns incluem a Doença de Crohn e a Colite Ulcerosa, poderá ter implicações importantes no tratamento e cura desta doença debilitante.
Cientistas do Francis Crick Institute de Inglaterra e da University College London “tropeçaram” num trecho de ADN que não codifica proteínas — um “deserto de genes“, como lhe chamaram — que parece estar fortemente ligado à Doença Inflamatória Intestinal (DII).
Embora partilhe o nome e um conjunto de sintomas semelhantes com a Síndrome do Intestino Irritável (SII), a DII é distinta na sua gravidade e pode ser fatal se não for tratada.
Segundo o The Guardian, as duas doenças partilham uma outra coisa importante em comum: ninguém sabe realmente o que as causa. Mas com a descoberta deste “deserto de genes”, isso poderá mudar em breve no caso da DII.
A descoberta foi apresentada num artigo publicado esta quarta-feira na revista Nature.
O estranho ponto fraco cromossómico que os cientistas encontraram, quase por acaso, aparece apenas nos glóbulos brancos conhecidos como “macrófagos“, que libertam citocina, uma proteína que catalisa a inflamação intestinal que caracteriza a DII.
“Ao analisar este ponto fraco, descobrimos que a parte do código genético que tínhamos identificado atua como ‘regulador principal’ da função dos macrófagos, situando-se mesmo no topo da pirâmide e ditando os químicos que são libertados”, explica James Lee, investigador do Instituto Crick e autor principal do estudo, em entrevista à BBC.
Nas pessoas sem DII — e sem o “deserto genético” em questão — essa secção de ADN liberta glóbulos brancos como o normal, que atacam as bactérias quando necessário e se acalmam nos outros casos.
No entanto, para as pessoas que herdaram este ponto fraco, a libertação de citocinas parece ser hiperactiva, inundando os intestinos com os químicos que provocam a inflamação.
“O que encontrámos é um dos principais fatores que se manifestam quando as pessoas têm doença inflamatória intestinal”, disse Lee ao The Guardian, “e isto tem sido uma espécie de Santo Graal”.
Os investigadores descobriram também, surpreendentemente, que 95% das pessoas com DII tinham o mesmo ponto fraco cromossómico, o que sugere fortemente que as duas doenças estão relacionadas.
Além disso, os investigadores do Crick também descobriram que uma classe de medicamentos anticancerígenos conhecidos como inibidores da MEK, que já existem e são amplamente utilizados para bloquear ou matar células cancerígenas, reduzem a inflamação em células intestinais retiradas de indivíduos com DII.
Serão necessários mais estudos até que possam ser utilizados com segurança e, como os glóbulos brancos desempenham um papel importante na resposta bacteriana, os cientistas não querem eliminá-los completamente.
Ainda assim, a dupla descoberta desta potencial arma genética e de uma forma de reduzir os piores sintomas da DII e de outras doenças imunológicas relacionadas com a inflamação é um enorme conjunto de descobertas — e pode, a prazo, melhorar a qualidade de vida dos 10 milhões de pessoas que sofrem desta doença comum e debilitante em todo o mundo.