Não há pontos de contacto entre o Bloco de Esquerda e o Partido Social Democrata. No debate desta quarta-feira, ficaram bem patentes os contrastes em relação aos salários, ao modelo para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e à forma de financiamento da Segurança Social.
O debate começou com Rui Rio a querer colocar um ponto final na questão da prisão perpétua, levantada no frente-a-frente com André Ventura, do Chega.
“Já disse e volto a repetir: obviamente sou contra a prisão perpétua, read my lips“, sublinhou o líder do maior partido da oposição, disposto a enterrar de vez a polémica.
“O que ficou claro no debate de segunda-feira com o Chega: ficou claro que eu sou contra a prisão perpétua, mas também ficou claro que o Dr. André Ventura o que defende não é exatamente a prisão perpétua, mas o regime misto que existe em muitos dos países da Europa”, explicou o presidente do PSD.
A resposta, contudo, não convenceu Catarina Martins, que acusou Rio de estar a “normalizar a selvajaria“.
“Mais do que explicar porque é que a prisão perpétua é inaceitável, está a tentar normalizar o que diz a extrema-direita, a Constituição da República não permite a prisão perpétua, é uma selvajaria”, afirmou a coordenadora do Bloco de Esquerda, acrescentando que é “muito preocupante” a posição de Rio.
“Às vezes, é difícil defender a decência, mas é isso que os líderes políticos devem fazer”, atirou.
O tom do debate – de profundo desacordo – estava definido.
Catarina Martins puxou a herança da troika para cima da mesa, frisando que as alterações às leis do trabalho, aprovadas pelo PSD, foram “um erro” que alimentaram a precariedade e os baixos salários.
Para argumentar a sua posição, referiu que a direita quer “destruir” o país, ao contrário do Bloco, que “fez muito” pelo equilíbrio orçamental. Tanto que o quadriénio em que o país mais cresceu desde a entrada no euro foi o período de governação da geringonça, entre 2015 e 2019.
“Ao contrário do que defende a direita, é com salário que o país pode crescer”, disse Catarina Martins, criticando Rui Rio por ter dito que o aumento do salário mínimo iria provocar mais desemprego e falências.
Na resposta, o líder do PSD defendeu que o salário mínimo “tem de aumentar de uma maneira que todos os salários possam crescer”. “Se acelerar o aumento do SMN, as empresas não podem aumentar os outros salários e nivelar por baixo. O BE quer acabar com os ricos, eu quero acabar com os pobres”, sustentou.
No setor da saúde, nada de novo além de novas divergências entre ambos. Rio defende que “atirar com mais dinheiro para o SNS não é prioridade” e que, em vez disso, é necessário garantir a organização do sistema e chamar o setor social e o privado para complementar.
A ideia “não é pôr os ossos no Estado e a carne nos privados“, explicou, salientando que o seu objetivo não é privatizar o setor da saúde.
“Temos de negociar parcerias público-privadas (PPP) com vantagem para ambas as partes, de modo a que tragam ao Estado melhor serviço e mais barato (…) Se assim for não faço porquê?”, questionou.
Já Catarina Martins não tem dúvidas de que “vai ser preciso mais dinheiro para a Saúde”. Para a coordenadora do BE, o PSD quer “aproveitar a crise pandémica para que a saúde possa ser um negócio”.
“Quando o SNS está frágil não devemos desatar a contratualizar. De hoje para amanhã estamos nas mãos dos privados. Vai ser preciso mais dinheiro público. É o melhor investimento que um Estado pode fazer”, precisou.
Por último, o financiamento da Segurança Social. De um lado, Rio que defende que “a base” da Segurança Social deve ser pública mas sem pôr de lado um sistema misto em que parte do dinheiro é investido; do outro, Catarina Martins, que descreve a proposta como “incompreensível”.
Para a bloquista, o aumento do salário mínimo nacional, a diminuição do desemprego e a taxa Mortágua (adicional do IMI) provaram que é possível contribuir para a sustentabilidade do sistema sem investir o dinheiro e arriscar perdê-lo.
Esta quinta-feira à noite, sentam-se frente-a-frente António Costa (PS) e André Ventura (Chega), num debate com transmissão na RTP1 a partir das 21h, e Catarina Martins (BE) encontra-se com João Cotrim Figueiredo (IL), na SIC Notícias, às 22h.
Conversas de surdos…
Esta Catarina não faz a mínima ideia do que é gerir…. Talvez fruto da sua experiencia e educação! Ou talvez porque o que basta é amarrar-se a um tacho… O BE já parece uma ditadura de esquerda (ou mesmo o PCP)…. não há mais ninguém que possa ser candidato? Não há quadros mais válidos? Ou esses estão a destruir os postos onde foram colocados (hospitais, universidades e agencias??)
Deus nos livre desta gente continuar….