Os críticos de Catarina Martins ganham peso e, pela primeira vez, a liderança enfrenta uma Moção expressiva, com quase um quinto dos delegados eleitos. A XII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda está marcada para o próximo fim de semana, dias 22 e 23 de maio.
Com o número de delegados reduzido a metade devido à pandemia, a XII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda promete ser diferente.
O Expresso avança que a liderança de Catarina Martins não está em causa, uma vez que a redução de delegados favorece a maioria da atual liderança, mas os principais críticos internos, vindos do Movimento Convergência, atingiram agora quase um quinto dos delegados.
Se os eleitos por plataformas locais – que não apresentam moções, mas estão obrigados a votar numa – escolherem a Moção E, esta pode ir mais longe.
Com o slogan “Enfrentar o Empobrecimento, Polarizar à Esquerda”, os subscritores criticam o “geringoncismo” que transformou o Bloco de Esquerda num aliado do PS. Para os críticos, nem a oposição ao último Orçamento do Estado (OE) é suficiente: é necessário “ganhar radicalidade” e fugir da chantagem sobre crises políticas ou eleições antecipadas.
Recai também sobre a atual liderança a crítica à submissão em matrioska em relação ao Estado de Emergência, em que o Presidente da República anula o Governo que, por sua vez, anula o Bloco de Esquerda.
Isto porque a “requisição do setor privado da saúde” ou a “proibição dos despedimentos” ficaram por fazer.
Ainda assim, a crítica mais pesada prende-se com a “asfixia democrática“, num partido que, em 2021, já não tem a horizontalidade e a diversidade de opiniões a que se propôs aquando da sua fundação, há 22 anos.
O Expresso escreve que a Moção A se apresenta com uma maioria sólida, de 233 delegados eleitos. O texto pede “políticas públicas fortes”, em áreas-chave para o BE, como a habitação, o emprego e a transição climática.
A direita é posta fora do baralho, com o núcleo duro do partido a afirmar que “não existe qualquer fatalidade democrática que atribua à direita radicalizada um lugar no Governo ou um destino de poder”.
“Pelo contrário, ela pode ser derrotada se a potência das alternativas à esquerda lograr responder à maioria e aos setores mais penalizados na crise”, lê-se.
As restantes três moções têm um peso mais residual, refere o semanário. A Moção C, “Mais Democracia, Mais Organização”, lança um apelo de diálogo, por “mais democracia interna, mais organização, mais Bloco, menos tendências”, e elegeu oito delegados.
A Moção Q, com nove delegados, abre as portas a um radicalismo “contra-corrente”, que recupere a ideia de um “partido-movimento”, que o Bloco não está a cumprir. Surge agora “apenas como partido tradicional: falta democracia interna, militância significativa e protagonismo das bases, sobra centralização, institucionalização e rotina”.
Por último, a Moção N, “Por Uma Revolução Tranquila”, celebra o acordo com António Costa no pós-legislativas de 2015, mas considera um “erro crasso” o partido não ter exigido novo acordo escrito. Vai à Convenção do próximo fim de semana com cinco delegados.