Caso de 17 judeus asquenazes atirados a um poço pode ter sido resolvido 800 anos depois

(cv) Reel Truth History Documentaries

Uma equipa de investigadores ingleses pode ter resolvido o ‘caso arquivado’ de 17 pessoas que foram atiradas a um poço há cerca de 800 anos.

A análise de ADN dos 17 corpos em Norwich sugere que eram judeus asquenazes que provavelmente foram mortos num pogrom.

Pogrom é uma palavra russa que significa “causar estragos, destruir violentamente”. Historicamente, refere-se à perseguição deliberada de um grupo étnico ou religioso, aprovado ou tolerado pelas autoridades locais. O termo tem sido usado para denominar atos de violência em massa, espontânea ou premeditada, contra judeus, protestantes, eslavos e outras minorias étnicas da Europa.

Em 1190, soldados cristãos a caminho de Jerusalém para lutar na Terceira Cruzada pararam no leste de Inglaterra para “insurgir-se contra os judeus antes que eles invadissem os sarracenos”, ou muçulmanos, escreve a Smithsonian Magazine.

Segundo o cronista medieval Ralph de Diceto, no dia 6 de fevereiro, “todos os judeus que foram encontrados nas suas próprias casas em Norwich foram massacrados; alguns refugiaram-se no castelo”.

Em 2004, a construção de um novo centro comercial em Norwich revelou um monte de ossos no fundo de um poço medieval com 800 anos. Com base no seu posicionamento, investigadores determinaram que foram atirados de cabeça.

Agora, graças à análise de ADN, os cientistas têm uma melhor ideia de quem eram essas pessoas – e como podem ter morrido. Os autores revelam que os seis corpos analisados eram “quase certamente” judeus asquenazes e que quatro deles eram familiares.

“Faz mais de 12 anos desde que começamos a investigar quem são estas pessoas, e a tecnologia finalmente alcançou a nossa ambição”, disse o geneticista evolucionário e autor principal do estudo, Ian Barnes, citado pelo Daily Mail.

A análise mostrou ainda que três dos seis restos mortais pertenciam a irmãs, sendo que a mais nova delas tinha entre 5 e 10 anos. Um menino, que tinha no máximo 3 anos de idade, tinha olhos azuis e cabelo ruivo.

O massacre de Norwich fez parte de uma mais ampla onda de violência contra os judeus em Inglaterra, que enfrentavam um crescente antissemitismo devido ao chamado mito do libelo de sangue.

Os libelos de sangue são alegações antissemitas que acusavam os judeus de assassinarem crianças cristãs para usarem o sangue das vítimas sacrificadas em rituais religiosos.

O mito teve, precisamente, origem em Norwich, onde um menino chamado William morreu em 1144. A sua família acusou os judeus locais de assassiná-lo, desencadeando uma perseguição étnica.

Não é totalmente certo que os judeus encontradas no poço tenham morrido durante o já referido massacre de 1190.

A datação por radiocarbono sugere que foram atirados ao poço entre 1161 e 1216 – um período de mais de 50 anos. Estes judeus podem ter sido mortos durante um período diferente de violência antissemita ou durante a sangrenta Grande Revolta de 1174.

O que é certo é que, agora, os restos mortais foram enterrados no cemitério judaico em Norwich, juntamente com uma placa comemorativa.

“Eles foram enterrados corretamente no cemitério certo e com os ritos religiosos corretos”, disse Barnes à revista Nature. “Demorou mais de 800 anos, mas lá chegaram no final”.

Os resultados do estudo foram recentemente publicados na revista científica Current Biology.

Daniel Costa, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.