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“Gansos” voltam a voar 83 anos depois. Casa Pia está de volta à I Liga

Rui Miguel Farinha / Lusa

Os jogadores do Casa Pia festejam a subida à I Liga.

O Casa Pia está de volta à Primeira Liga, 83 anos depois da sua primeira participação no principal escalão do futebol português.

A promoção ficou decidida, este domingo, na última jornada do campeonato, depois de uma vitória categórica, por 1-5, em casa do Leixões.

O GD Chaves perdeu em Vila do Conde, o que fez com que os ‘gansos’ nem precisasse de vencer para subir à Liga Bwin.

“Andámos sempre camuflados, porque podíamos pagar caro essa fatura. Muitos jogadores vieram de escalões inferiores e vários deles nunca tinham jogado nos campeonatos profissionais”, disse o técnico Filipe Martins.

“Esperámos algum tempo, no qual fomos ultrapassando uns problemazinhos, mas conseguimos e é um orgulho para todos os casapianos. Confesso que eu era o mais pessimista de todos, já vi muita coisa acontecer no futebol e, por isso, posso dizer que pude respirar melhor após o apito final”, disse, por sua vez, o presidente do clube, Victor Franco.

O presidente do Casa Pia já pensa agora nas obras a fazer no Estádio Pina Manique, para cumprir as regulamentações obrigatórias da I Liga relacionadas com a lotação do recinto.

“Chegámos ao último jogo a depender de nós, o que não é fácil, e fizemos as coisas muito bem feitas. Foi uma vitória do grupo e de todos e agora só temos de desfrutar do momento. Trabalhámos muito, mas vamos para a I Liga”, disse Jota Silva, autor de dois dos cinco golos apontados em Matosinhos.

Casa Pia foi “manchado”, mas mostrou os seus valores

Em declarações aos jornalistas no final do encontro, Vasco Fernandes, um dos jogadores mais experientes dos ‘gansos’, mostrou-se orgulhoso pela promoção.

“Sinto satisfação pelo trabalho realizado e acima de tudo, orgulho. Não representamos só uma equipa de futebol, representamos uma instituição. Muitas vezes esta instituição foi manchada por outros casos. Através do futebol, conseguimos mostrar os valores verdadeiros do Casa Pia”, atirou.

“O Casa Pia é muito mais que 50 pessoas que pensam em futebol. É muito mais do que isso. Ajuda muitas pessoas. Através do futebol, conseguimos sensibilizar as pessoas. Somos muito mais do que isto. Esse é o melhor troféu, a melhor medalha que podemos ter”, continuou o atleta que já jogou em França, Espanha, Grécia, Roménia e Turquia.

“É gratificante, é emocionante e estamos todos de parabéns. Não é fácil sem as condições nem a capacidade financeira dos outros, mas temos outras coisas que não se compram: coração e equipa com letras grandes”, acrescentou o luso-guineense de 35 anos. “Agradeço também às nossas famílias que muitas vezes estão escondidas e sofrem em silêncio. Esta subida é para eles e para uma pessoa muito especial: o meu pai. Não está aqui, mas certamente está muito orgulhoso”.

É o culminar de uma grande época dos comandados de Filipe Martins, que terminam no segundo lugar da Liga Portugal SABSEG, depois de terem conseguido chegar aos oitavos de final da Taça de Portugal. O Casa Pia foi eliminado pelo Sporting CP, após perder por 1-2.

A última presença do Casa Pia na I Liga tinha sido na temporada 1938/39, a primeira edição do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão depois das quatros épocas da Primeira Liga Experimental. O emblema lisboeta terminou em oitavo lugar, o último posto do campeonato, com apenas dois pontos.

Curiosamente, no primeiro jogo da seleção portuguesa, frente à Espanha, em 1921, o Casa Pia era o clube mais representado, com quatro jogadores no onze inicial — José Gralha, António Lopes, António Pinho e o mítico Cândido de Oliveira. Portugal acabaria derrotado por 3-1.

Daniel Costa, ZAP //

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