Artista retira cartoon polémico de exposição em Gaia após críticas da Comunidade Israelita

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Onofre Varela / Facebook

O cartonista Onofre Varela num retrato a sorrir.

O cartonista Onofre Varela.

O cartoonista Onofre Varela viu-se forçado a retirar um dos seus trabalhos da Bienal Internacional de Arte Gaia depois de críticas da Comunidade Israelita de Lisboa que o acusam de anti-semitismo.

O cartoon em causa inclui uma figura de Hitler com a suástica nazi no braço e com uma Estrela de David no peito. A par disso, inclui a seguinte frase: “Israel trata os palestinos com o mesmo desrespeito com que Hitler tratava os judeus”.

A Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) considera que a obra “é uma ofensa grave e indecorosa”, conforme carta enviada ao presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, e publicada na página da entidade no Facebook.

Na opinião da CIL, o cartoon “banaliza o Holocausto cometido pelo regime nazi e diaboliza os judeus na sua relação com a Palestina”.

“Somos contra a censura, mas o direito de livre expressão deve e pode ser travado quando estimula o ódio e a intolerância”, destaca ainda a Comunidade, frisando que “Hitler não tratou os judeus com “desrespeito””, mas que os tratou “com um extermínio em massa e com uma desumanidade sem limites”.

Artista acusa CIL de confundir “cebola com pêssego”

O artista revela, num texto publicado no Facebook, que decidiu retirar a obra da exposição “para não ferir susceptibilidades tão melindrosas“, após “conversar com os responsáveis da mostra” que decorre em Vila Nova de Gaia. “Talvez assim ajude a construir a paz naquela região”, diz com ironia.

Onofre Varela é um reconhecido cartoonista português, com vasta obra publicada em diversos jornais. O artista recorda, no seu texto, que o cartoon da polémica foi publicado em 2021 e nota que a CIL “rotulou” o seu trabalho de “anti-semita”, “tal como Salazar rotulava de anti-patriota quem não fosse Salazarista“.

“Agradeço a atitude da Comunidade, porque quer dizer que o cartune funcionou”, escreve ainda, explicando que o seu desenho “fundamenta-se em dois factos históricos“, designadamente, “Hitler maltratou judeus” e “Israel maltrata palestinos”, como escreve.

“Dizer que esta minha apreciação crítica é uma atitude anti-semita, é confundir uma cebola com um pêssego“, acrescenta.

“Alerto quem se escandalizou com o meu desenho, para que nunca use cebola numa salada de frutas, nem pêssego num estrugido. O resultado seria intragável, como intragável é o fundamentalismo de quem apelida de “anti-semita” quem não diz amén consigo”, nota ainda Onofre Varela.

“A memória dos judeus vitimados pelos assassinos nazis merece, da minha parte, toda a dor, todo o respeito e toda a consideração. Obviamente que repudio o genocídio perpetrado por Hitler, o qual escreveu páginas negras e vergonhosas na História da Humanidade”, aponta também o artista.

Mas “o modo como Israel trata os cidadãos da Palestina, desde a invasão do seu território em 1967, também merece, de mim, idêntico repúdio“, considera, lamentando que já foi “insultado por activistas judeus” no Facebook.

Câmara de Gaia agradada com retirada do cartoon

Em reacção ao caso, a Câmara de Gaia realça, numa nota enviada à agência Lusa, que “jamais o município põe em causa a liberdade de expressão“.

“Independentemente disso, entende-se que quando se ferem susceptibilidades num tempo em que a tolerância é um valor fundamental, devem ser tomadas opções”, vinca contudo.

Assim, a autarquia manifesta “total agrado” pela decisão de Onofre Varela de retirar o cartoon, congratulando-se “com esta postura” e manifestando “total solidariedade à comunidade judaica da região e do país”.

“Com esta atitude, fica evidenciada a postura de tolerância e diálogo que norteia, sempre, este município”, aponta ainda a autarquia.

Na carta enviada ao presidente da Câmara de Gaia, a CIL apelava a Eduardo Vítor Rodrigues que se se solidarizasse com a sua posição e que manifestasse o seu descontentamento e, “se preciso fosse”, que retirasse o apoio “público, financiado pelos contribuintes”, à bienal de arte.

Alegava a CIL que a manutenção do cartoon na exposição seria uma forma de, “a coberto da arte”, profanar “a memória de milhões de vítimas que pereceram às mãos de um regime assassino, sanguinário e impiedoso”.

Director da Bienal defende liberdade artística

O director da Bienal Internacional de Arte Gaia, Agostinho Santos, sublinha que o certame é “uma Bienal de Causas” e que, nesse sentido, “assume o compromisso de dar liberdade a cada artista para expressar a sua visão do mundo”.

Agostinho Santos também destaca que o trabalho de Onofre Varela “faz referência a Israel na sua perspectiva e já foi publicado há alguns anos na comunicação social”. “Não significa isso que a Bienal se identifique com qualquer expressão política manifestada pelos artistas representados, mas jamais impedirá que a sua liberdade de expressão seja limitada“, reforça ainda.

A 5.ª edição da Bienal Internacional de Arte Gaia arrancou a 8 de Abril e prolonga-se até 8 de Julho, levando à Quinta da Fiação, em Lever, 20 exposições de mais de 300 artistas de várias nacionalidades. O evento pretende “agitar consciências” numa edição que homenageia Carlos Carreiro e João Jacinto.

ZAP // Lusa

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11 Comments

  1. pró palestiniano, como qualquer comunista. Nao surpreende. Na proxima apresentará uma caricatura do Zelensky tambem com a suástica

      • Tem toda a razão.

        Mas também foi exactamente o que fez o cartoonista. Que Israel não respeita os DH na Palestina, conquista lhes territórios ilegalmente e trata-os como cidadãos de segunda em Israel, cometendo não raras vezes verdadeiras atrocidades, ninguém pode negar.

        Agora compará-los ao Nazismo e o que tudo isso significa e afirmar que Hitler “maltratou” os judeus, é claramente e igualmente desonestidade intelectual por parte do autor da obra.

        O que cartoonista queria era publicidade gratuita para a sua obra. Já o conseguiu. Pelo meio, obteve a cereja em cima do bolo, porque lá consegue passar por vítima.

        Não há inocentes.

  2. E lá entramos nós a fazer o que os outros querem que façamos: onde está a liberdade então? – todas as pessoas podem sentir-se ofendidas – têm esse direito -; o que não têm é de forçar alguém a mudar algo, fazer com que essa pessoa seja negativamente impactada ou em certos casos até despedida.

    Estamos ir pelo caminho do que está a acontecer nos EUA – é esse o caminho correto? O artista infringiu alguma lei? A não ter infrigido, emoções não contam, por muito que venham com a moralidade e afins; no compto final os factos não têm emoções.

      • Não era o primeiro. Se fosse sobre Maomé ninguém se preocupava. Vassalagem pura perante Israel. Esses podem invadir, matar, torturar que ninguém diz nada, têm total apoio dos EUA e afins. Atenção, antes que me acusem de ser comunista não, eu não sou comunista nem apoiante do Putin e afins!…

  3. A Bienal de Gaia a mostrar que não tem espinha dorsal. Se não apoiam os artistas que expõe, a bienal não presta. É só uma fachada para meter algum ao bolso no final do dia.

  4. Bem …… se Temos en conta o que podemos ler sobre os antepassados do Ti Adolfo , e a teoria que teoricamente é de descendência Judia ; …como condenar este Cartoonista ?

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