98% dos carros feitos na Europa têm uma peça fabricada em Portugal. Graças a isso, a indústria de componentes conseguiu um novo recorde: passou a valer 11,3 mil milhões de euros.
Há, porém, obstáculos a vencer na estrada, desde as mudanças na indústria automóvel, onde os carros elétricos ganham cada vez mais peso, à falta de diversificação das exportações, aumento dos custos de logística e ainda à concorrência dos países de leste e de Marrocos.
De Portugal sai todo o tipo de peças para as fábricas europeias: desde os estofos da Coindu para os carros do Grupo Volkswagen, as espumas e tecidos da ERT Têxteis para os carros de luxo da Rolls-Royce e da Maserati, ou ainda as caixas de velocidade para os carros da Renault.
É, por exemplo, nas caixas de velocidades que se vai viver o futuro da indústria de componentes: por causa dos automóveis elétricos, estas caixas terão de sofrer fortes transformações para conseguirem lidar com os motores movidos a baterias e não com os motores de combustão.
Esta será uma das maiores transformações que serão sentidas pela indústria de peças nos próximos anos, segundo um estudo divulgado pela consultora Roland Berger.
Ao mesmo tempo, as empresas nacionais terão de apostar na diversificação dos mercados de exportação, que representou 83% do volume de negócios (9,4 mil milhões de euros) no ano passado.
Entre as peças que ficam na Europa, mais de metade têm como destino Espanha (21%), Alemanha (17%), França (12%) e Reino Unido (8%). Entre estes quatro motores da economia, no entanto, apenas o espanhol dá garantias de aumento da produção nos próximos anos; os restantes vão estagnar ou perder potência, como França e Reino Unido.
“Precisamos de diversificar cada vez mais as exportações de automóveis. Temos de começar a abraçar outras geografias, sobretudo fora da Europa”, apontou Luís Castro Henriques, presidente da agência de investimento AICEP, citado pelo Diário de Notícias.
Portugal enfrenta também o desafio dos custos, sobretudo na produção e na receção e envio de peças para o estrangeiro. Na produção, a AFIA chama a atenção para os “custos excessivos da eletricidade”; na logística, a falta de investimento na ferrovia, tendo em conta que as estradas “representam 95% dos movimentos e existe cada vez mais pressão ambiental”, avisou Adolfo Silva, diretor da AFIA.
A concorrência internacional também é vista como um obstáculo a ultrapassar, seja vinda do Leste da Europa ou de Marrocos. “Temos de estar atentos aos riscos de deslocalização da indústria automóvel para países como Polónia, Hungria e Roménia”, notou José Couto, líder do cluster automóvel Mobinov.
Estes e outros riscos podem penalizar uma indústria que dá emprego direto a 55 mil pessoas, que conta com 265 fábricas em praticamente todo o país e que representa 5% de toda a economia nacional.
Para já, em 2019, prudência é a palavra de ordem. “Vivemos uma fase de enormes mudanças no setor automóvel e poderemos estar a ver os primeiros sintomas de estagnação na Europa”, avisou Tomás Moreira, presidente da AFIA.