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Carregar veículos elétricos em 5 minutos. A China está a ganhar a corrida

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CATL

Batería CATL de um veículo MG4 da fabricante chinesa SAIC

Os longos tempos de carregamento são apontados como principal causa do atraso na revolução dos veículos elétricos, mas isso pode estar prestes a mudar — graças às novas tecnologias de baterias de carregamento rápido. E a indústria de baterias da China está 10 anos à frente das suas rivais ocidentais.

Os tempos de carregamento, entre 20 minutos e 50 horas — muito mais tempo do que o necessário para abastecer com gasolina — são frequentemente apontados como uma das principais razões pelas quais os condutores se mostram relutantes em optar por veículos elétricos.

Mas fabricantes de automóveis e startups de todo o mundo estão agora a tentar construir baterias para veículos elétricos que possam carregar em menos de 10 minutos — ou mesmo 5.

Isso mudará toda a experiência do cliente”, diz ao Business Insider o vice-presidente executivo da startup de baterias Nyobolt, Ramesh Narasimhan.

“O carregamento deixaria de ser um aborrecimento e de exigir um tempo de inatividade de 40 minutos a uma hora, para passar a ter a mesma experiência que se tem hoje numa situação de abastecimento de combustível”, acrescenta.

Os desenvolvimentos registados no último ano sugerem que esse sonho poderá estar cada vez mais próximo.

Em agosto, a Zeekr, rival chinesa da Tesla, apresentou novas baterias para o seu modelo 007 que são, segundo a empresa, as de carregamento mais rápido do mundo, capazes de carregar de 10 a 80% em pouco mais de 10 minutos.

Entretanto, a CATL, gigante chinesa das baterias, apresentou em abril a sua bateria Shenxing Plus — que, segundo a empresa, proporciona 600 km de autonomia após 10 minutos de carregamento.

Segundo Rory McNulty, diretor de produto da Benchmark Mineral Intelligence, os avanços na química das baterias e no design do software permitiram que fabricantes como a CATL otimizassem as suas baterias para um carregamento mais rápido sem as danificar.

Além disso, novos modelos de baterias, como as baterias à base de silício e de estado sólido, que se espera cheguem ao mercado nos próximos anos, irão acelerar a mudança para um carregamento mais rápido.

Estamos à beira da introdução de novos materiais, que intrinsecamente devem carregar mais depressa”, nota McNulty.

A Nyobolt demonstrou em junho a sua tecnologia num protótipo de elétrico. A bateria carregou com sucesso de 10% a 80% em 4 minutos e 37 segundos, alcançando uma autonomia de 195 km após quatro minutos.

A startup, sediada no Reino Unido, está em conversações com oito empresas para incorporar a sua tecnologia em veículos elétricos de alto desempenho e espera vê-los em veículos de passageiros até ao final da década.

Totalmente carregado

O lançamento de baterias de veículos elétricos de carregamento ultrarrápido não será isento de desafios.

Segundo Ramesh Narasimhan, os fabricantes de automóveis enfrentam atualmente um dilema entre construir elétricos com grandes baterias que podem percorrer grandes distâncias ou dar prioridade a baterias mais pequenas de carregamento rápido com menor autonomia.

Como as baterias são, de longe, a parte mais cara de um veículo elétrico, baterias mais pequenas significariam veículos mais baratos, nota Narasimhan.

A falta de baterias é outro fator que tem dissuadido alguns consumidores de optarem pela eletricidade.

O outro grande obstáculo é a infraestrutura de carregamento. As baterias que podem ser carregadas em 5-10 minutos requerem carregadores de 350kw de alta potência para atingir as velocidades máximas de carregamento.

“A infraestrutura de carregamento é a próxima fronteira”, afirma McNulty. “Pode ter-se a melhor bateria do mundo, que pode ser carregada em cinco minutos, mas se a porta de carregamento ou a infraestrutura de carregamento não tiver a capacidade de corresponder a isso, então estará sempre limitada”, acrescentou.

A China avança a toda a velocidade

Uma coisa é quase certa: as primeiras baterias de veículos elétricos de carregamento ultrarrápido generalizado serão provavelmente chinesas.

A China domina a indústria mundial de baterias, com empresas como a CATL, a BYD e a Zeekr a liderarem a construção de baterias para veículos elétricos com maior autonomia e tempos de carregamento mais rápidos.

A indústria de baterias da China está 10 anos à frente dos seus rivais ocidentais. Construíram toda uma infraestrutura em torno das baterias que é praticamente impossível de replicar“, explica o antigo executivo da Aston Martin e da Nissan Andy Palmer, muitas vezes chamado “O Padrinho dos VE”.

Grande parte do sucesso da China no fabrico de baterias deve-se à sua estratégia industrial de longa data, que levou o governo a subsidiar fortemente os fabricantes locais na última década.

Como resultado, a superpotência do Leste Asiático tem agora um domínio sobre a cadeia global de fornecimento de baterias. McNulty calcula que a China domine neste momento 95% do mercado mundial de grafite, um mineral essencial para as baterias de veículos elétricos.

A China tem também a vantagem da escala. O mercado chinês representou 60% dos registos globais de veículos elétricos em 2023,  e o país construiu rapidamente a sua infraestrutura de carregamento para acompanhar a procura.

“Os estrangulamentos na infraestrutura de carregamento que eram um problema há alguns anos atrás já não são. Há carregadores rápidos por todo o lado. Eu tenho provavelmente 10 deles à volta da minha casa”,explica Cosimo Ries, analista da Trivium China, sediada em Xangai.

Ries acrescenta que a concorrência brutal no mercado de veículos elétricos da China está a pressionar os fabricantes de automóveis para reduzirem os tempos de carregamento e lançarem modelos de carregamento rápido a preços mais baixos.

A concorrência é tão feroz que quem não apresentar baterias de carregamento mais rápido a preços mais baratos, não vai conseguir sobreviver”, diz Ries.

“Estamos a começar a ver o carregamento rápido a avançar para o segmento médio ou mesmo inferior dos mercados. Penso que estamos provavelmente muito mais perto do carregamento em 5 minutos do que se esperava, pelo menos na China”, acrescenta.

ZAP //

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3 Comments

  1. Citando o próprio artigo. “Grande parte do sucesso da China no fabrico de baterias deve-se à sua estratégia industrial de longa data, que levou o governo a subsidiar fortemente os fabricantes locais na última década”. O SUBSIDIO é onde os rivais ocidentais apontam o dedo, acusando os chineses de concorrência desleal. Será descabido concluir, que o ocidente poderia também SUBSIDIAR desenvolvimentos técnológicos que nos servissem a todos, em vez de torrar dinhairo em conflitos e guerras inúteis que, em extremo, não só nos atrasam, mas acabarão por nos arruinar ? Tenham todos um melhor Ano Novo, que este que está acabando.

    • O Ocidente devia agora fazer o que a China faz há décadas – copiar sem pudor a tecnologia de baterias chinesa e poupar em custos de R&D.

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