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O antigo presidente do Banco de Inglaterra, Mark Carney, foi eleito o próximo primeiro-ministro do Canadá.
O Partido Liberal de Mark Carney ganhou as eleições federais no Canadá, numa vitória que contou com a ajuda de Donald Trump e da sua “guerra” das tarifas para transformar o Canadá no 51º estado dos EUA.
A vitória poderia ser surpreendente se não se adivinhasse depois da forma como o Presidente dos EUA transformou o Canadá no seu principal inimigo, na guerra das tarifas, e com um despeito que o levou a falar do país vizinho como o 51º estado dos EUA.
Antes da eleição de Trump, o Partido Liberal estava “morto e enterrado”, com as sondagens a indicarem claramente que perderia as eleições para o Partido Conservador de Pierre Poilievre.
Contudo, o posicionamento pró-Trump de Poilievre, cujo lema era “Canada First” numa imitação do “América First” do movimento que elegeu o Presidente dos EUA, valeu-lhe a derrota – mesmo que o político conservador se tenha tentado afastar de Trump nos últimos meses.
Mark Carney usou isso a seu favor, fazendo campanha tanto contra Trump como contra o seu principal rival da oposição. Chegou a declarar que a antiga relação do Canadá com os EUA estava “terminada”.
Os liberais conquistam, assim um quarto mandato consecutivo, mantendo-se no poder há mais de uma década. Mas não conseguem a maioria parlamentar.
Líder conservador pró-Trump pode não ser eleito
Quando estavam contadas 73.716 das 75.482 mesas de voto, os Liberais asseguravam 167 lugares, contra 145 dos Conservadores de Pierre Poilievre, que pode não ser eleito (com 253 de 266 urnas apuradas, o liberal Bruce Fanjoy liderava com 50% dos votos, contra 46,6% de Poilievre).
O Bloc Québécois ficou com 23 assentos, o Novo Partido Democrático (NDP) com sete e o Partido Verde com um.
Para a maioria absoluta seriam necessários 172 lugares.
O líder do NDP, Jagmeet Singh, anunciou a demissão depois de um resultado desastroso para o seu partido, enquanto o Bloc Québécois perdeu 11 lugares relativamente ao início da campanha.
Estreia impressionante para o “novato” Mark Carney
Esta eleição decorreu pouco mais de cinco semanas depois de Mark Carney ser empossado primeiro-ministro, sucedendo a Justin Trudeau.
É uma estreia impressionante para um novato na política, que em Março passado, se tornou no primeiro-ministro canadiano a nunca ter ocupado um cargo público eleito antes — após uma vitória estrondosa na corrida à liderança do Partido Liberal.
A vitória consolida a rápida ascensão política do ex-governador dos bancos centrais do Canadá e do Reino Unido, que prometeu unir o país e enfrentar os desafios económicos e diplomáticos com pragmatismo.
Os resultados finais devem ser confirmados nas próximas horas, mas os Liberais preparam-se para formar o próximo Governo do Canadá, numa legislatura que promete ser marcada por exigências de cooperação entre partidos e uma defesa firme dos interesses nacionais.
Quatro luso-canadianos eleitos
Nestas eleições federais, quatro luso-canadianos foram eleitos deputados – Charles Sousa, Peter Fonseca, Alexandra Mendes e Carlos Leitão garantiram a eleição nos respectivos círculos eleitorais, reforçando a presença luso-canadiana na Câmara dos Comuns.
Reeleito em Mississauga-Lakeshore, Charles Sousa afirmou à Lusa que a vitória “é para o Canadá”, sublinhando a necessidade de “trabalhar em conjunto para resolver os desafios” que o país enfrenta.
Filho de imigrantes portugueses no Canadá, Charles Sousa tem uma carreira de destaque na política provincial e federal. Antes de ingressar na política federal em 2022, foi ministro das Finanças de Ontário entre 2013 e 2018.
Na eleição de segunda-feira, Sousa conquistou 34.269 votos (52,2%), numa votação quase total no distrito de Mississauga–Lakeshore.
Também em Mississauga, Peter Fonseca assegurou a reeleição em Mississauga East–Cooksville, com 25.902 votos (49,9%).
Ex-maratonista olímpico e antigo ministro do Trabalho do Ontário, Fonseca mantém-se na Câmara dos Comuns desde 2015, onde presidiu recentemente ao Comité Permanente de Finanças.
Na província do Quebeque, Alexandra Mendes renovou o seu mandato em Brossard–Saint-Lambert, obtendo 62,4% dos votos.
Natural de Lisboa e residente no Canadá desde 1978, Mendes, condecorada em 2023 com o grau de Comendadora da Ordem de Camões, é uma das vozes liberais mais influentes em temas de imigração e multiculturalismo.
A grande novidade destas eleições foi a estreia de Carlos Leitão na política federal.
O ex-ministro das Finanças do Quebeque foi eleito no distrito de Marc-Aurèle-Fortin, em Laval, com 52,2% dos votos.
Natural de Peniche e economista de reputação internacional, Leitão reforça a bancada liberal num momento de forte desafio económico e diplomático para o Canadá.
ZAP // Lusa