“O melindroso fio da navalha”: Carneiro pode passar por novas eleições no PS já em Fevereiro

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Miguel A. Lopes / LUSA

O secretário-geral do Partido Socialista (PS), José Luís Carneiro

O período pós-Mário Soares deixou uma lição aos socialistas. A “aristocracia” no PS não deixa muito espaço para outsiders como Seguro.

José Luís Carneiro é oficialmente o novo líder do Partido Socialista (PS). A eleição do secretário-geral foi confirmada no sábado passado.

Houve um assunto que não foi assunto na sua declaração de vitória: as eleições presidenciais. Fala-se o menos possível, ou não se fala mesmo nesse tema, dentro do PS. Pelo menos para já.

António José Seguro é candidato a presidente da República. António Vitorino não. Augusto Santos Silva poderá ser.

José Luís Carneiro “agarra” o PS nesta altura de indefinição em relação às presidenciais (algo que não é inédito na história do PS).

Carneiro foi um companheiro de percurso de António José Seguro. Mas “é curioso” observar o que está a acontecer e o que vai acontecer no seio socialista, analisa José Manuel Mestre.

O comentador na rádio Observador começa por dizer que “há aqui no PS um lado aristocrático e um lado plebeu”. Quando se refere a lado aristocrático, fala em hierarquia, na lista de quem ocupa os lugares-chave no partido.

Essa “aristocracia” começou com António Guterres. Depois do período conturbado no pós-Mário Soares (com passagens curtas de Almeida Santos, António Macedo, Vítor Constâncio e Jorge Sampaio pelo cargo) mudou-se o paradigma em relação ao secretário-geral do PS.

Com Jorge Coelho como mediador, o partido criou uma hierarquia de sucessão. Ferro Rodrigues, Jaime Gama, José Sócrates ou António Costa estariam nessa lista.

Mas depois, em 2011, apareceu António José Seguro: anunciou ser candidato a secretário-geral na noite em que José Sócrates se demitiu. Porque “sabia que, nessa aristocracia, António Costa iria avançar, por isso não deu tempo para Costa avançar”.

“A aristocracia não permitia um outsider“, reforça José Manuel Mestre.

E agora o PS tem um cenário semelhante: “Estamos aqui numa iminência em que António José Seguro é candidato e o PS não sabe o que há-de fazer. E pode aparecer Augusto Santos Silva, ou voltar Sampaio da Nóvoa – para dividir a área socialista e pôr em causa o PS ter um candidato na segunda volta”. Essa é “a grande questão, é o problema”.

E o PS até pode nem ter um candidato presidencial, embora o comentador ache esse desfecho pouco provável. Os apoiantes de Pedro Nuno Santos – que ainda estão na Comissão Nacional do PS – nunca adoraram Santos Silva e podem mesmo apoiar Seguro.

Então, José Luís Carneiro, eleito há tão poucos dias, está num “melindroso fio da navalha”. Porque a forma como vai gerir este processo influencia muito o seu futuro.

“Há o risco de ser atravessado por António José Seguro, depois Seguro não vai à segunda volta nas eleições presidenciais, e em Fevereiro ou Março termos alguém a discutir o lugar de secretário-geral do PS com José Luís Carneiro”, avisa José Manuel Mestre.

É um “melindroso fio da navalha que mexe com a história do PS das últimas décadas e pode pôr em causa o secretário-geral actual”.

ZAP //

3 Comments

    • O PS vai ter um tempo de travessia do deserto. Uma cabeça já rolou (Pedro Santos) e outras irão rolar, incluindo a de José Carneiro.

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