O juiz instrutório Carlos Alexandre entende que não há crime no conteúdo dos emails do universo do Benfica divulgados no Porto Canal.
O julgamento dos três responsáveis pela divulgação de emails do SL Benfica no Porto Canal, Francisco J. Marques, Júlio Magalhães e Diogo Faria, começa esta sexta-feira no Campus de Justiça de Lisboa.
O juiz de instrução Carlos Alexandre julgará os arguidos pelos crimes de violação de correspondência e acesso indevido.
No despacho, ao qual o Expresso teve acesso, o juiz pronuncia-se sobre o conteúdo dos emails trocados, por exemplo, entre Pedro Guerra, comentador e antigo funcionário do clube, e Adão Mendes, ex-observador de árbitros da Liga e da Federação.
“Entendemos que houve uma subversão propositada do sentido dos e-mails divulgados com o intuito de fazer crer que estaria em curso um projeto corruptivo, quando dos e-mails e da sua leitura integral [….] não se retira a prática de qualquer crime”, lê-se no despacho de pronúncia.
Carlos Alexandre recusa os argumentos dos arguidos de que a divulgação dos e-mails era “de interesse público” que e resulta da “liberdade de expressão”.
“Não aceitamos como válida uma liberdade de expressão maculada pela distorção do conteúdo dos e-mails com o intuito de passar uma mensagem que não corresponde à realidade”, considera o juiz de instrução.
Ainda não há qualquer decisão e, segundo uma fonte ouvida pelo Expresso, apesar da posição de Carlos Alexandre, o Ministério Público pode entender que há indícios suficientes para fazer uma acusação.
A notícia do Expresso está a ser debatida no Twitter por utilizadores que questionam o seu teor.
Esta chamada de capa do Expresso é um tratado sobre desinformação, manipulação da opinião pública e spin. pic.twitter.com/rzti2tvwuH
— Diogo Faria (@Diogo_Faria90) September 16, 2022
As suspeitas que envolvem Pedro Guerra partiram do diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, durante um programa da Porto Canal, no qual acusa o Benfica de um esquema de aliciamento e corrupção com oito árbitros da I Liga para favorecimento do clube ‘encarnado’.
“A 28 de Janeiro de 2014, naquele que é o primeiro campeonato do tetra do Benfica, Adão Mendes enviou um e-mail a Pedro Guerra com algumas passagens como estas. ‘Sobre a arbitragem não temos que ser mãozinhas. Hoje o Benfica manda e os outros não mexem nada. O resto virá por acréscimo. Dizem os grandes sábios dos painéis que algo está a mudar. Hoje sabem que quem nos prejudicar será punido‘“, disse, na altura, o diretor do FC Porto, antes de revelar outros oito nomes de árbitros que estarão igualmente envolvidos no esquema.
“No dia 22 de Dezembro de 2013, Adão Mendes escreveu assim para Pedro Guerra: ‘Temos hoje árbitros que, não sendo internacionais, por vários motivos, têm demonstrado melhores prestações do que os internacionais, entre os quais Jorge Ferreira, Nuno Almeida, Manuel Mota, Vasco Santos, Rui Silva, Hugo Pacheco e Bruno Esteves. Temos ainda Paulo Baptista que está a fazer uma excelente época, é um excelente árbitro e podia ter sido injustamente despromovido na época passada’“, completou, para depois dar a sua opinião sobre este tema.
“Jorge Ferreira, Manuel Mota, Nuno Almeida, Vasco Santos, Hugo Pacheco, Rui Silva e Bruno Esteves, à data de 22 de Janeiro de 2013, e ainda Paulo Baptista, estavam ao serviço do Benfica. É o que Adão Mendes está a dizer. Isto é um esquema de corrupção para favorecer o Benfica“, alegou Francisco J. Marques.
O caso dos e-mails surgiu em 2017, quando o Benfica acabava de fazer o tetra, Tudo decorre da obsessiva necessidade de impedir que o SLB igualasse o mítico penta, orgulho máximo de quem esteve na génese dos factos e práticas reveladas pelo “Apito Dourado”. Aguardemos, serenos e confiantes, “à justiça o que é da justiça”…
Perdoem a ironia.
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