Para além de já se saber que estas aranhas são umas excelentes caçadoras de insetos, um novo estudo vem agora revelar que esta sua habilidade é alicerçada pelo excelente domínio auditivo com que contam.
A aranha Cara-de-Ogro, normalmente habita nas florestas tropicais da América, mas é muito difícil de ser vista. A espécie é assim chamada porque tem dois grandes olhos que parecem óculos escuros e uma cara esquisita.
Esta aranha sai para caçar à noite, acompanhada por uma rede pegajosa que ela mesma fabrica. A pequena aranha sobe os galhos com a teia estendida entre as pernas dianteiras, e mantém-se nessa posição enquanto espera que um inseto passe por ela.
Nessa altura a Cara-de-Ogro lança a sua teia e envolve o animal. Por vezes, a sua rede é usada no processo de caça na noite seguinte, mas o habitual é que a aranha a coma juntamente com os insetos que consegue capturar.
Para além de sua incrível visão noturna, um novo estudo indica que estas aranhas também ouvem muito bem. Mesmo não tendo ouvidos, as aranhas usam os recetores articulares das suas pernas para captar sons até pelo menos 2 metros de distância.
Os resultados do estudo que foi publicado na revista Current Biology no mês de outubro, sugerem que as aranhas tanto ouvem os sons de baixa frequência emitidos pelas suas presas preferidas (insetos), como também captam sons de alta frequência de possíveis predadores. Ron Hoy, autor do estudo, explica que “muitas aranhas podem realmente ouvir. A deteção da vibração funciona para sentir o tremor da teia ou do solo”.
Em vez de esperar passivamente que a presa caia numa teia e fique presa, as aranhas Cara-de-Ogro usam as suas teias como arma. Depois de passarem o dia completamente paradas, misturando-se com as folhas das palmeiras ao seu redor, as aranhas emergem à noite, diz o Phys.
“Num estudo anterior, coloquei pasta dos dentes nos olhos delas para que não pudessem ver. Quando as coloquei novamente na natureza , descobri que não podiam caçar presas no chão, mas ainda conseguiam capturar insetos do ar. Esta foi a certeza que as aranhas estavam a usar um sistema sensorial diferente para detetar insetos voadores”, explica o autor do estudo.
Embora o estudo anterior tenha mostrado que as aranhas são capazes de ouvir, esta nova pesquisa mostrou o quão bem elas o fazem. Ao observar as reações das aranhas a sons diferentes, a equipa percebeu que as aranhas podiam ouvir sons de até 10 kHz de frequência. Ouvir estas frequências mais altas pode não ser tão útil para a caça, mas pode ajudá-las a ficarem alerta para se esconderem dos predadores.
Hoy indica que quando se dá “a um animal um estímulo ameaçador, a resposta imediata é de luta ou fuga. Estes invertebrados também têm esse reflexo, pois captam qualquer tipo de estímulo saliente, que liga o sistema neuromuscular. É um sistema de atenção seletiva que está presente na espécie”.
Embora os resultados deixem claro que as aranhas podem detetar bem os sons, os investigadores estão interessados em, futuramente, testar a audição direcional, que vai permitir ajudar a explicar melhor o estilo de caça acrobática desta espécie.
“A audição direcional é muito importante em qualquer animal, mas acho que vão haver algumas surpresas interessantes no caso desta aranha”, remata Hoy.