O cancro do pulmão é um dos tumores mais fatais, mas nos últimos meses tornou-se ainda mais mortal. Especialistas garantem que com a pandemia os diagnósticos começaram a surgir numa fase ainda mais tardia, o que pode ser fulcral no processo decisivo de recuperação.
Paula Alves, coordenadora do Serviço de Pneumologia Oncológica do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, tem recebido muitos pacientes já sem tratamento possível e revala à TSF que “temos tido aqui casos com sintomas muito graves, nomeadamente metastização cerebral e paralisia, doença óssea com uma dor insuportável ou falta de ar em que não se consegue protelar a ida ao médico”.
O cancro do pulmão é a segunda causa de morte por doença oncológica em Portugal. Este tipo de cancro pode só se manifestar quando se encontra num estado avançado de desenvolvimento, por isso o mais importante é saber reconhecer quais os possíveis sinais e sintomas.
Contudo, este tipo de cancro é uma doença silenciosa, que demora muito a dar sinais, é normalmente é diagnosticada num estado avançado, mas agora passou a ser detetada ainda mais tarde, quando os doentes já não conseguem adiar mesmo mais a ida ao hospital ou ao centro de saúde.
A médica de oncologia realça que no caso de sintomas suspeitos, os pacientes podem dirigir-se diretamente aos hospitais, nomeadamente àquele onde trabalha (o Hospital Pulido Valente), sem passar pelos médicos de família, no entanto, muitos pacientes não conhecem esta possibilidade.
Após a primeira vaga da pandemia, em março e abril, em que os novos doentes quase desapareceram, os casos de cancro de pulmão que começaram a surgir desde então estão num estado ainda mais avançado do que era habitual encontrar.
“Notamos isso porque a maioria dos tumores já têm metastização. As células malignas já não estão apenas num pulmão. Surgem no outro pulmão ou no fígado, na cabeça, nos ossos, entre outros órgãos”, descreve Paula Alves. A especialista pede a quem tenha sintomas que procure ajuda e não adie por causa da covid-19, recordando o crescente número de doentes que surge sem hipótese de cura.
Logo depois da primeira vaga da pandemia, chegaram “ao nosso serviço quase todos os doentes – se não todos – em estado avançado” da doença, adianta.
Isabel Magalhães, presidente da Associação Portuguesa contra o Cancro do Pulmão, diz que a possibilidade de cura está a ser muito mais complexa e recorda que durante décadas um diagnóstico de cancro do pulmão era quase uma sentença de morte.
Porém, nos últimos anos as taxas de sobrevivência melhoraram muito com novos tratamentos, uma tendência que a responsável da associação teme que se tenha invertido com o impacto da pandemia.
“Um diagnóstico que já era feito por norma tardiamente está a ser feito numa fase muito avançada, com uma expectativa de sobrevida com qualidade muito comprometida”, afirma Isabel Magalhães.
José Alves, presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão, também recorda o desvio de atenções motivado pela covid-19, mas sublinha que é necessário mais tempo para ter uma noção exata do impacto em doenças como o cancro do pulmão
Para já em Portugal não se conhecem estudos relevantes sobre este tema, mas um relatório publicado em outubro sobre a realidade do Reino Unido revela que no país o controlo do cancro do pulmão foi altamente afetado pela pandemia.
O avanço da doença deve-se não só a diagnósticos atrasados, mas também a sintomas que se confundem com a covid-19 e com as pressões sobre os serviços de saúde das doenças respiratórias.
Coronavírus / Covid-19
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