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Mark Carney, primeiro-ministro do Canadá, e Emmanuel Macron, Presidente de França
As ameaças de Donald Trump de anexação do Canadá e da Gronelândia enfureceram canadianos e europeus, e a ideia de um novo tipo de aliança transatlântica está a ganhar força — dos dois lados do oceano.
Em março, na altura acabado de ser eleito primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney lançou uma frase tão forte quanto perentória: “nunca faremos parte dos EUA”.
Mas poderia o país norte-americano juntar-se a uma outra união de estados?
O político alemão Joachim Streit nunca pisou solo canadiano. Mas isso não o impediu de lançar uma campanha tenaz, de um só homem, que descreve como “aspiracional”: fazer com que o país Canadá se junte à UE, conta o The Guardian.
“Temos de fortalecer a União Europeia”, afirmou Streit, que no ano passado foi eleito membro do Parlamento Europeu. “E penso que o Canadá – como diz o seu primeiro-ministro – é o país mais europeu fora da Europa“.
Joachim Streit, que vê o país norte-americano como um parceiro natural para a UE durante tempos geopolíticos turbulentos, acredita que o estreitamento desta relação poderia beneficiar ambas as partes.
“Os canadianos viram a sua confiança nos EUA abalada, tal como nós na Europa, na sequência das ações do Presidente Trump”, explica Streit. “Precisamos de fortalecer os laços que nos unem aos nossos amigos“.
A proposta não é completamente sem precedentes. Em janeiro, numa entrevista ao The Pioneer, Sigmar Gabriel, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, defendeu também a inclusão do Canadá na UE, afirmando que os canadianos “são mais europeus do que alguns estados-membros europeus”.
A ideia da adesão do Canadá ao bloco europeu é na verdade um assunto antigo, que o The Economist abordou em janeiro, numa análise política na qual explica “por que o Canadá deveria juntar-se à UE“.
No Canadá, a opinião pública parece recetiva, diz o The Guardian. Uma sondagem realizada em fevereiro revelou que 44% dos canadianos acreditam que o seu país deveria explorar a ideia de uma adesão à UE.
A entrada do Canadá traria ativos substanciais ao bloco europeu. “Se o Canadá fosse membro, seria o 4º maior PIB da UE“, observa Strait.
Membro fundador da NATO, o Canadá tem mão-de-obra altamente qualificada (58% dos canadianos em idade ativa possuem diplomas universitários) e as suas vastas reservas energéticas poderiam fortalecer o bloco europeu, enquanto este trabalha para reduzir a dependência do gás russo.
Os críticos da ideia apontam para um obstáculo aparentemente intransponível: o tratado da UE especifica que apenas estados europeus podem candidatar-se à adesão. No entanto, o político alemão desvaloriza este detalhe técnico, citando precedentes como os territórios ultramarinos franceses e a ilha de Chipre, que geograficamente se situa na Ásia.
Streit destaca ainda que, tecnicamente, o Canadá faz fronteira com a UE. Com efeito, a Gronelândia, que faz parte da Dinamarca, partilha com o Canadá a pequena ilha de Hans, no estreito de Nares.
Com apenas 1.2 km2, a ilha foi disputada entre os dois países até 2022, ano em que um tratado estabeleceu uma fronteira entre o território canadiano de Nunavut e o território gronelandês.
Em abril, Streit questionou formalmente o Parlamento Europeu sobre a possibilidade de o tratado da UE ser interpretado ou revisto para acomodar a adesão canadiana, e propôs, num artigo no VNY, um programa de intercâmbio entre funcionários da UE e do Canadá — uma espécie de Erasmus político, comercial e científico.
Finalmente, Joachim Streit recorda que o Canadá faz parte da Commonwealth britânica. “Quem é o chefe de estado do Canadá? O Rei Carlos. E ele é europeu”.
Reconhecendo os desafios que a sua ideia enfrenta, Streit mantém-se pragmático, sugerindo que, mesmo que a adesão plena se revele impossível, o momento atual poderia ser aproveitado para estabelecer laços mais profundos, semelhantes aos que existem com a Noruega ou a Suíça.
“Por vezes na história, as janelas de oportunidade abrem-se e fecham-se novamente”, reflete. “E por vezes, as janelas de oportunidade estão abertas apenas por um breve momento“.
Se do lado canadiano a ideia de uma adesão parece ser bem acolhida, não há sondagens que revelem o que pensam sobre o assunto os cidadãos da UE — que estão, apesar de tudo, habituados a ver Israel disputar as competições da UEFA e a Austrália participar no Festival da Eurovisão.
Talvez brevemente tenhamos que ser chamados a decidir o que define a União Europeia, e que países dela devem fazer parte — se são critérios meramente geográficos, ou os princípios e valores morais que defendemos.