A caixa negra do avião da Ethiopian Airlines que se despenhou este domingo foi recuperada pelos investigadores no local, noticiou a televisão estatal etíope esta segunda-feira.
O avião tinha partido do aeroporto de Adis Abeba, capital da Etiópia, com destino à capital queniana, Nairobi, mas caiu poucos minutos depois da descolagem matando todos os ocupantes — 157 pessoas. Entre as vítimas estão 149 passageiros de mais de 30 nacionalidades diferentes.
O Boeing partiu do aeroporto internacional de Bole, na capital etíope, Adis Abeba, e perdeu contato com a torre de controlo 6 minutos mais tarde. A queda aconteceu próximo da cidade de Bishotfu.
Para além da caixa negra e dos registos digitais do voo, foi recuperado ainda o gravador alojado no cockpit onde constarão as comunicações dos pilotos.
Um avião do mesmo modelo, Boeing 737 MAX 8, caiu na Indonésia em outubro do ano passado, depois de perder contacto com o solo 13 minutos depois de descolar. A bordo estavam 189 pessoas e ninguém sobreviveu.
Três países suspenderam utilização de Boeing 737 Max 8
As autoridades chinesas ordenaram esta segunda-feira a todas as companhias aéreas do país para que não usem temporariamente aviões Boeing 737 Max 8. A Administração da Aviação Civil da China esclareceu que a ordem, que irá prevalecer durante nove horas, se deve a preocupações com a segurança.
A Etiópia e as Ilhas Caimão seguiram o exemplo até se concluírem as investigações sobre o desastre da Ethiopian Airlines.
“Após o trágico acidente de ET 302, a Ethiopian Airlines decidiu imobilizar toda a sua frota de Boeing 737 MAX de ontem, 10 de março, até novo aviso”, informou a companhia aérea, num comunicado publicado no Twitter.
Boeing adia o lançamento do 777x
O lançamento do 777x, o novo avião da Boeing, vai ser adiada por tempo indeterminado. A própria empresa anunciou a suspensão da cerimónia, marcada para quarta-feira, 13 de março de 2019, em Seattle, nos EUA.
Ainda assim, a Boeing espera cumprir com o calendário de produção do modelo — o “maior e mais eficiente jato de dois motores” do mundo — de que vão ser construídas 300 unidades. A Boeing quer focar-se internamente na investigação ao desastre de domingo, em que se despenhou um 737 Max 8 vendido pela empresa à Ethiopian Airlines.
A Boeing, uma das maiores empresas de aeronáutica do mundo, garantiu que vai enviar uma equipa técnica para o local do desastre, que colaborará com a Agência de Investigação de Acidentes da Etiópia e com a Associação Nacional de Segurança de Transportes dos EUA.
“Entendemos as nossas condolências às famílias e amigos dos passageiros e tripulantes da aeronave e estamos prontos para apoiar a equipa da Ethiopian Airlines”, acrescentou.
Curso de adaptação ao Boeing é curto e sem simulador
A generalidade dos pilotos que voavam com o anterior modelo 737 da Boeing e começaram a voar com este novo modelo 737 Max 8 teve de fazer apenas um “breve curso de diferenças” para se adaptar ao novo modelo da empresa, de acordo com o site especializado na indústria da aviação FlightlGlobal, numa análise publicada em janeiro.
Na análise é referido que os pilotos das companhias aéreas Southwest Airlines e American Airlines, por exemplo, fizeram os seus cursos de adaptação a este novo modelo “inteiramente online”.
“Não há experiência prática de simulação de voos” nas formações destas companhias, constata o artigo. A Southwest Airlines tem como previsão de data receber o seu primeiro simulador de voo para este modelo apenas em “março do próximo ano”.
A Ryanair conta, por sua vez, voar com os primeiros Boeing 737 Max 8 “da sua base no aeroporto de Stansted, em Londres”, já no próximo mês de abril. Os cursos de formação da Ryanair para adaptação dos pilotos que já voavam com o anterior Boeing 737 eram também de curta duração e pouco abrangentes: esse “curso de diferenças” estava planeado como uma formação dada “com base em computadores”.
Estas não foram as primeiras críticas aos cursos de formação e adaptação de pilotos ao novo modelo da Boeing, que começou a ser utilizado mais regularmente em 2018.
Após o primeiro grande acidente ocorrido com este modelo de avião, em outubro do ano passado, a APA, associação que representa cerca de 15 mil pilotos norte-americanos, garantiu que o funcionamento do sistema tecnológico MCAS — Maneuvering Characteristics Augmentation System, presente neste modelo e não nos anteriores, não foi explicado aos pilotos que a associação representa “durante o treino ou em quaisquer outros manuais ou materiais”. Este sistema esteve na origem do acidente que aconteceu em outubro.
Desta vez, a Boeing meteu água….. ou no curso ou no avião (ou em ambos) – e muita.