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BRICS discutem tornar-se o “novo G7” anti-Ocidente (e mais de 40 países querem aderir)

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CJCS / Flickr

O Presidente da China, Xi Jinping

A China quer expandir os BRICS e criar uma plataforma capaz de rivalizar com o G7, mas a oposição da Índia ameaça travar os esforços de alargamento.

Os líderes das economias emergentes que representam quase metade da população global, estão reunidos na África do Sul para o arranque de uma cimeira dos BRICS que é particularmente importante. Este encontro, liderado por representantes da China, Rússia, Índia, Brasil e África do Sul, é visto como um passo importante para fortalecer a sua união contra a hegemonia ocidental.

Depois de várias semanas de especulação, foi confirmado que Vladimir Putin iria participar virtualmente, mediante o risco de ser preso na África do Sul na sequência do mandado de detenção emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Este mandado teria obrigado a África do Sul, membro do TPI, a deter Putin.

Há especulações de que esta cimeira serve para os BRICS, que são responsáveis por um quarto do PIB mundial, adoptem uma linha abertamente anti-ocidental. Um tema que deve marcar presença na discussão é a redução da dependência do dólar no comércio internacional, havendo até rumores de que os BRICS criem a sua própria moeda para rivalizar com a americana num futuro próximo.

Enquanto isso não acontece, a China quer alargar o grupo de nações em desenvolvimento aliadas para contrabalançar a influência dos EUA. De acordo com o Financial Times, o Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa convidou mais de 60 chefes de Estado e representantes de Governos para a cimeira e Pequim quer abrir a porta dos BRICS a vários destes países.

“Se expandirmos os BRICS para termos uma porção do PIB mundial semelhante à do G7, então a nossa voz colectiva no mundo será muito mais forte“, afirma um responsável chinês que prefere manter o anonimato.

Naledi Pandor, Ministra dos Negócios Estrangeiros da África do Sul, também afirmou este mês que seria “extremamente errado” encarar uma possível expansão dos BRICS como uma manobra anti-Ocidente.

Mais de 40 países terão demonstrado interesse em aderir ao BRICS, com 23 a já ter solicitado formalmente a admissão. Entre os potenciais novos membros estão as nações sancionadas pelo Ocidente e isoladas diplomaticamente, como o Irão, a Bielorrússia e a Venezuela. Argentina, Indonésia e Arábia Saudita também estarão na lista dos interessados.

Várias nações africanas, como a Etiópia e a Nigéria, também estão atraídas pelo compromisso do bloco de que o continente teria uma voz mais influente no palco global e acreditam que a expansão dos BRICS pode levar a mudanças na Organização Mundial do Comércio, no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional, explica o The Guardian.

Do lado brasileiro, Lula da Silva manifestou-se recentemente a favor da inclusão dos vizinhos argentinos e venezuelanos nos BRICS, assim como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.

No entanto, Brasília quer que sejam definidos critérios claros para a entrada, como por exemplo, a adesão ao Novo Banco de Desenvolvimento, um banco sediado em Xangai fundado pelos BRICS.

“É importante que os critérios sejam definidos à entrada destes novos membros”, refere um diplomata brasileiro, que frisa que os países interessados “têm de saber por que é que a decisão foi tomada e os assuntos prioritários”.

Índia opõe-se à expansão

Mas a Índia não está a gostar dos esforços de expansão encabeçados pelos chineses. Nova Deli não concorda com transição dos BRICS para uma força política abertamente anti-Ocidente, preferindo que o grupo se mantenha como um conjunto de países que defende os interesses económicos dos países em desenvolvimento sem qualquer pendor ideológico.

“A Índia quer garantir que esta plataforma não se transforma numa plataforma abertamente anti-ocidental, e existe o perigo de isso acontecer, com a Rússia e a China a terem uma determinada agenda. A Índia e muito menos Modi não têm interesse em moldar a política externa da Índia numa direção anti-ocidental“, explica Harsh Pant, especialista de relações internacionais no Observer Research Foundation, um think-tank de Nova Deli.

Com a oposição indiana, é muito pouco provável que haja consenso e que se façam avanços concretos para a expansão nesta cimeira. Muitos analistas também estão cépticos quanto às esperanças de que um alargamento dos Brics possa ter muito impacto. Desde a sua fundação em 2009, as ambições do bloco de exercer uma influência política e económica global significativa foram minadas pelas diferenças entre os valores, interesses e sistemas políticos dos seus membros.

Em conclusão, embora a cúpula Brics prometa discussões que possam remodelar alianças globais, a possibilidade de expansão imediata parece improvável devido às reservas da Índia e preocupações sobre a direção futura do bloco.

Adriana Peixoto, ZAP //

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