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“Não escolhemos o Brexit”. Macron não aceita acordo que prejudique pesca (mas Boris quer controlar as suas águas)

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson alertou na sexta-feira o país para se preparar para um colapso das negociações comerciais com a União Europeia e para um Brexit com medidas mais duras e sem acordo até ao final do ano. No centro da discussão está a atividade piscatória.

Boris Johnson garante que mesmo com a saída do Reino Unido da União Europeia, a instituição quer continuar a “controlar a liberdade legislativa do país, sobretudo no que diz respeito à pesca, de uma forma que é obviamente inaceitável para um país independente como o nosso”, referiu na passada sexta-feira.

A pesca sempre foi um dos maiores obstáculos para um acordo pós-Brexit entre a UE e o Reino Unido. Perante estas afirmações, o principal negociador da UE, Michel Barnier, disse que não haveria acordo comercial geral sobre a saída do Reino Unido da União Europeia sem um acordo “justo e sustentável” sobre a pesca.

Brexit espalha o “caos” em França

Esta situação já está a preocupar o presidente francês Emmanuel Macron que insistiu que os franceses não devem perder os seus direitos de extrair cavala do Canal da Mancha. “Sob nenhuma circinstância, o nosso setor da pesca deverá ser prejudicado pela saída do Reino Unido da Europa. Não escolhemos o Brexit, é uma escolha dos britânicos”, referiu Macron em entrevista à rádio francesa RFI

O presidente de França acrescenta ainda que caso a Grã-Bretanha não permita pescadores franceses nas suas águas, a União Europeia não terá outra opção senão bloquear o fornecimento de energia ao país.

Segundo o The Washington Post, a pesca francesa chega a cerca de 1% do PIB, com números comparáveis na Holanda e na Dinamarca. Estes três países pertencentes à União Europeia são dependentes das águas britânicas para encher as suas redes.

Entre farpas, Macron sugeriu numa entrevista na semana passada, que permanecer firme na pesca ajudaria Boris Johnson a reivindicar pelo menos uma vitória parcial no caso de um resultado sem acordo. “A pesca é um tema usado taticamente pelos ingleses. Porque, no caso de não haver acordo, é o único tópico em que Johnson pode dizer que ganhou ”, disse Macron.

“Se não houver acordo, os pescadores europeus não devem ter acesso às águas do Reino Unido. Essa é a realidade”, acrescentou o presidente de França. Este problema está a causar preocupação a muitos pescadores franceses que não sabem como será o seu futuro, pois sempre pescaram em águas inglesas e a sua subsistência depende disso.

“Será o caos! Teremos que parar os barcos, porque não poderemos pescar em lugar nenhum ”, disse Dimitri Rogoff, presidente do Comitê Regional de Pesca da Normandia, em declarações ao jornal francês Les Echos.

“Retomar o controlo”

Mas esta luta pelas águas inglesas não é de agora. Em 2016, durante a campanha de Boris Johnson para o Brexit, o futuro primeiro-ministro despertou o interesse dos britânicos com a ideia de que os vizinhos europeus estavam a pescar nas suas águas de forma abusiva.

Simon Usherwood, professor de política da Universidade de Surrey, garante que esta postura do atual primeiro-ministro inglês fez com que a pesca passasse a desempenhar um papel de destaque nas negociações do Brexit. “Em termos objetivos, esta é uma parte bastante importante da economia”, referiu o professor.

O slogan do Brexit “retomar o controlo” parece encaixar-se perfeitamente com esta nova conduta dos ingleses, em que querem um controlo unilateral de quem pode pescar nas suas águas. Contudo, a gestão da pesca é uma negociação global.

Apesar de toda esta preocupação em torno da atividade piscatória, a verdade é que a maioria do peixe pescado nas águas britânicas não é consumido pelos ingleses, pois têm como destino França e Espanha, onde há uma grande procura pelas espécies que circulam em águas britânicas. Enquanto isso, os britânicos preferem comer camarões, que também vêm do exterior.

ZAP //

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