Podia ser um episódio de Black Mirror, mas é a vida real. A Microsoft quer “reencarnar” pessoas digitalmente através de chatbots, para que, no futuro, seja possível conversar com pessoas que já morreram através de um chat.
Se tivesse oportunidade, conversaria com um bot de um ente querido falecido? Apesar de a pergunta estar muito relacionada com um episódio da segunda temporada série Black Mirror, intitulado Be Right Back, a verdade é que a Microsoft pode estar a preparar terreno para fazer a mesma pergunta aos seus consumidores.
O Interesting Engineering escreve que, em dezembro, o departamento de licenciamento de tecnologias da Microsoft recebeu a permissão de registo de uma patente para criar um chatbot totalmente virtual capaz de simular a personalidade de uma pessoa. A patente está disponível no site do U.S. Patent and Trademark Office.
O documento explica que o chatbot pode ser baseado num amigo ou parente falecido. No fundo, a tecnologia seria alimentada com informações (como imagens, áudios e até publicações nas redes sociais), algo considerado fundamental para identificar padrões de forma e estilo.
Quanto mais informação disponibilizada, mais real e completo seria o bot. Aliás, a patente adianta que a voz da pessoa em questão poderia ser escutada e a imagem reproduzida, na medida em que “pode ser gerado um modelo 2D/3D usando imagens, informações de profundidade e/ou dados de vídeo associados à pessoa específica”.
O caso específico de criação de um chatbot de uma pessoa falecida é citado como uma das possibilidades de uso do sistema. Este plano reflete o enredo do episódio Be Right Back, de Black Mirror, no qual uma viúva conversa com uma versão robô do seu falecido marido através de um serviço fornecido por uma empresa de tecnologia.
A ideia mais simples, e que envolve menos questões éticas, é a criação de um chat com uma personalidade “menos robótica” e mais próxima da humana.
O Interesting Engineering salienta que a tecnologia coloca em cima da mesa questões éticas e relacionadas com os regulamentos em torno dos dados post-mortem. A falta de regulamentação em torno dos dados das pessoas após a morte significa que, em teoria, qualquer pessoa poderia recolher os dados de uma pessoa falecida e fornecê-los a um serviço de criação de um chatbot sem o consentimento prévio da pessoa.
Para já, há muitas perguntas sem resposta: No futuro, será igual? Os regulamentos vão permitir às empresas fazer versões digitais de seres humanos sem o seu consentimento? As empresas vão assumir a responsabilidade de pedir esse consentimento?
A verdade é que os pedidos de patentes nem sempre significam que um produto passará a existir. A ideia pode ressuscitar daqui a alguns anos ou, simplesmente, morrer.