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Bispo Carlos Azevedo alvo de processo disciplinar do Vaticano. Foi acusado de assédio sexual em 2010

André Kosters / Lusa

Bispo Carlos Azevedo

Bispo natural do Porto foi acusado por um padre de assédio sexual, em 2010. Conferência Episcopal Portuguesa confirma processo disciplinar recente, mas não revela motivos. Carlos Azevedo não tem sido visto em eventos públicos.

O bispo português Carlos Azevedo está a ser alvo de um processo disciplinar instaurado pelo Vaticano.

A notícia é avançada pela RTP e a existência do processo, instaurado ainda antes da Páscoa, foi confirmada à mesma televisão pela Conferência Episcopal Portuguesa. No entanto, a entidade não se mostrou disponível para adiantar o motivo do processo canónico.

Terá sido devido ao processo que o bispo, desde 2011 em Roma, não participou nas celebrações pascais no Porto, a sua diocese de origem. Desde então, não foi visto em qualquer ato público na capital italiana, que foi palco, recentemente, de grandes acontecimentos no seio da Igreja Católica — o funeral do Papa Francisco, o Conclave e a consequente eleição do novo Papa, Leão XIV.

“A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) teve conhecimento da existência de um processo disciplinar relativo ao bispo em questão, cuja competência jurídica é exclusiva da Santa Sé, tendo em conta que o bispo em causa integra um organismo da Cúria Romana”, lê-se no comunicado da CEP enviado à RTP, que não responde a mais perguntas.

Carlos Azevedo é desde 2022 delegado do Comité Pontifício para as Ciências Históricas. Ocupou cargos de destaque na Igreja Católica, mas o seu nome não é isento de polémica.

Recuando a 2010, a Sábado lançava uma edição com uma capa dedicada a si: “O segredo do bispo” e “A queda de um anjo”, lia-se na revista onde queixas de assédio sexual na Igreja, apresentadas contra o bispo, eram exploradas, acusações que o bispo negou.

“Remexer em assuntos de há 30 anos visa meramente sensacionalismo para destruir pessoas”, disse, na altura.

Terá sido o padre José Nuno, capelão hospitalar e figura respeitada na Diocese do Porto, a alegada vítima e autor da denúncia contra o bispo Carlos Azevedo.

O caso remonta aos anos 80, quando José Nuno ainda era seminarista. Durante um acampamento do Movimento Oásis, terá sido alvo de um alegado assédio sexual por parte do bispo, revelava a revista Visão em 2013. Nos anos 90, já ordenado sacerdote, Nuno relata uma segunda situação semelhante, o que o levou a cortar relações com o bispo. A última ocorrência terá tido lugar em 2009, em Lisboa, num contexto de reuniões frequentes entre ambos devido a responsabilidades eclesiais comuns.

José Nuno permaneceu em silêncio durante anos, mas a convicção de que existiam mais vítimas terá levado o sacerdote a a denunciar os factos ao núncio apostólico, Rino Passigato, em 2010.

Em 2013, o Vaticano negou ter sido instaurado um processo disciplinar devido às suspeitas de assédio.

Em 2019, um livro intitulado de “No Armário do Vaticano” assegurava que o bispo, próximo de Bento XVI, escondia a sua homossexualidade, o que comprometeu a sua carreira na Igreja: foi abandonado pelos amigos, repudiado pelo núncio e abandonado pelo cardeal Policarpo, “porque apoiá-lo seria correr o risco de ser, por sua vez, apontado a dedo”, contava o autor Frédéric Martel, que terá falado com o bispo para a elaboração daquelas 700 páginas.

ZAP //

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