Bebés reconhecem canções de embalar que ouviram ainda na barriga da mãe

Estudos anteriores indicavam que bebés podem reconhecer rimas infantis cantadas para eles enquanto estavam no útero. Agora, os investigadores descobriram que bebés também podem lembrar-se de rimas infantis faladas, sem melodia.

Um novo estudo revela que os bebés com apenas duas semanas conseguem distinguir o ritmo e outros sons de uma canção de embalar que ouviram enquanto estavam no útero, comparativamente com uma que não lhes é familiar.

Segundo o NewScientist, pensa-se que esta capacidade pode estar ligada ao desenvolvimento linguístico, e pode ser uma nova forma de identificar bebés em risco de problemas de linguagem, mais tarde na vida.

Acredita-se que a aprendizagem da linguagem comece antes mesmo do nascimento, com estudos a mostrar que os recém-nascidos conseguem distinguir a voz da mãe da de um estranho, assim como identificar a sua língua materna com base em padrões de discurso.

Cristina Florea, da Universidade de Salzburgo, Áustria, e seus colegas, estudaram 60 mulheres grávidas, divididas em dois grupos.

Cada grupo foi convidado a reproduzir gravações de duas canções infantis alemãs no abdómen duas vezes ao dia, a partir da 34ª semana de gravidez. Ambas as canções eram faladas, sem melodia.

Durante a experiência, os investigadores alteraram, por vezes, o ritmo das canções infantis, tocaram-nas ao contrário e retiraram sons de alta frequência das gravações.

Duas semanas depois do nascimento, os investigadores reproduziram as duas canções para os bebés, enquanto monitorizavam a atividade elétrica nos seus cérebros através de eletroencefalografia.

Descobriram que os bebés respondiam muito mais às rimas desconhecidas, mostrando um esforço cognitivo maior ao ouvi-las.

Além disso, as rimas infantis modificadas e filtradas foram mais difíceis de seguir para os bebés, sugerindo que eles podiam discriminar entre diferentes gravações e não se limitavam apenas a reconhecer as melodias.

Este estudo destaca a importância do ritmo e do tom do discurso na aprendizagem precoce da linguagem.

De um modo geral, o estudo mostra que “os bebés conseguem distinguir rimas familiares, sublinhando a importância do ritmo e do tom do discurso para a aprendizagem precoce da linguagem”, afirma Nayeli Gonzalez-Gomez, da Universidade de Oxford Brookes, no Reino Unido.

“Também mostra que, enquanto estão no útero, os bebés prestam muita atenção aos sons que ouvem [e] vem juntar-se às provas que mostram que a prosódia — o ritmo, a ênfase e a entoação da linguagem — desempenha um papel importante na forma como os bebés processam a linguagem”.

Os investigadores acompanharam os bebés até os seis meses e descobriram que seu desenvolvimento linguístico estava correlacionado com a capacidade de seguir rimas infantis aos dois semanas de vida.

Esta descoberta sugere que a análise neural da fala, logo após o nascimento, pode ser usada para identificar pessoas em risco de desenvolver problemas de linguagem.

“É muito difícil avaliar de forma fiável o desenvolvimento da linguagem de uma criança pré-verbal e, com um recém-nascido, é praticamente impossível, [mas] os métodos de rastreio neural poderiam avaliar as crianças desde o nascimento, fazer um prognóstico ou ajudar a recomendar terapias”, afirma Florea. “Ainda não chegámos lá, mas esta correlação com o desenvolvimento posterior é o primeiro passo”.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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