Investigadores da Universidade de Birmingham deram um passo de gigante na compreensão da forma e do momento em que os bebés começam a manifestar consciência — um tema que desperta interesse há séculos.
Ao contrário dos adultos, os bebés não têm capacidade para expressar verbalmente as suas experiências, o que constitui um desafio significativo no estudo da sua consciência.
Para contornar esta dificuldade, os cientistas procuram identificar marcadores de consciência — comportamentos ou ativações cerebrais que indicam presença de perceção.
O estudo, publicado esta sexta-feira na revista Trends in Cognitive Sciences, sublinha quatro marcadores específicos que poderiam indicar o despontar da consciência, alguns dos quais presentes antes do nascimento.
Conduzido por Henry Taylor e Andrew Bremner, investigadores da Universidade de Birmingham, o estudo apresentou evidências que sugerem que a consciência pode começar a manifestar-se no terceiro trimestre de gestação.
Os dois investigadores salientam no entanto que esta perspetiva é redutora, considerando que há marcadores que surgem apenas em fases posteriores do desenvolvimento, como o gesto de apontar e a memória explícita.
“Um dos problemas que encontrámos é que aparentemente nem todos os marcadores apontam para a mesma idade de aparecimento da consciência”, explica Henry Taylor, citado pelo Earth.com.
Estes indicadores refletem um desenvolvimento do sentido de si e do outro, ações deliberadas com objetivos específicos e a capacidade de recordar e imitar ações depois de algum tempo.
Um dos desafios que os autores do estudo encontraram na definição do momento de início da consciência está nas diferentes idades sugeridas pelos marcadores, desde os últimos meses de gravidez até aproximadamente um ano de idade, e até aos 3-4 anos para marcadores mais complexos.
Assim, “a análise de um leque mais abrangente de marcadores em grupos em diferentes etapas do desenvolvimento poderia proporcionar uma compreensão mais detalhada sobre a evolução da consciência ao longo da gestação e da infância”, sugere Andrew Bremner.
Compreender o início da consciência não é apenas um desafio intelectual; abre também um vasto debate sobre os direitos dos bebés e a forma como os cuidamos. Esta compreensão pode transformar não só as práticas médicas correntes, mas principalmente a nossa conceção global da experiência humana.
Ainda assim, estamos agora mais perto de decifrar a forma misteriosa como um pequeno ser, inicialmente guiado apenas por reflexos, se transforma numa pessoa única, com plena consciência de si próprio.