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BCE admite só comprar dívida de países com rating acima de lixo

European Parliament / Flickr

Mario Draghi, presidente do BCE, Banco Central Europeu

O Banco Central Europeu (BCE) admite comprar dívida soberana apenas de países com ‘rating’ de investimento, classificação que é atribuída a Portugal apenas pela agência de notação DBRS.

Numa reunião que ocorreu em Frankfurt na quarta-feira, os governadores do BCE terão tido acesso a vários modelos para a compra de até 500.000 milhões de euros em obrigações soberanas da zona euro, sendo que entre as hipóteses terão estado duas opções: a compra de títulos classificados apenas de ‘AAA’, a notação máxima, ou com uma classificação de ‘BBB-’, a primeira acima de ‘lixo’ ou de investimento, segundo um responsável que esteve presente no encontro, citado pela agência Bloomberg.

Segundo as notações da Standard and Poor’s (S&P), Moody’s e Fitch, a dívida soberana portuguesa é classificada como ‘lixo’.

O ‘rating’ atribuído pela DBRS, classifica a dívida portuguesa no nível mais baixo de investimento (BBB low), segurando o país no programa de compra de dívida pública se for seguido o critério atualmente usado pelo BCE.

A informação divulgada hoje pela Bloomberg não especificava se este critério seria, ou não, seguido.

Analistas contactados pela Lusa admitem que esta é uma das opções que está em cima da mesa por parte do BCE, e que representa uma posição mais conservadora da instituição liderada por Mario Draghi, mas estão divididos sobre se será realmente esta a forma de avançar com o programa de ‘alívio quantitativo’ (‘quantitative easing’).

Filipe Garcia, da Informação de Mercados Financeiros (IMF) considerou que esta seria uma forma de “formalizar dois tipos de países dentro da zona euro”, (entre os que cumprem os ‘ratings’ e os que não cumprem), o que poderia “gerar um sentimento de revolta contra instituições europeias”, principalmente da Grécia, que ficaria de fora do programa e, que tem eleições legislativas marcadas para 25 de janeiro, três dias depois da reunião de Governadores do BCE, quando espera que sejam anunciadas mais medidas de política monetária.

“É uma hipótese em cima da mesa, mas não creio que seja esta a maneira como isto pode andar para a frente. Era uma medida no mínimo polémica”, observou.

O analista de mercados do banco Carregosa João Queiroz considerou que, apesar de “carecer de mais detalhes e de parecer um teste”, esta hipótese “mais conservadora” seria “considerada mais adequada pela Alemanha”, que não se tem mostrado muito favorável ao programa de compra de dívida.

No entanto, considerou João Queiroz, para este mecanismo “ser mais eficaz, devia chegar também à economia real, às pequenas e médias empresas e os empresários por conta própria; precisava de alargar mais o perímetro em termos de risco”.

Por outro lado, Teresa Gil Pinheiro, analista financeira do Departamento de Estudos Económicos do banco BPI, admite que esta hipótese venha mesmo a ser a escolhida pela autoridade monetária, “pelo menor risco e por ser mais consensual”.

Além da hipótese de compra de dívida pública com ‘rating’ de investimento, o Conselho de Governadores está a ponderar também a compra de dívida na proporção da participação de cada país no BCE, medida que seria mais facilmente aceite, considerou Filipe Garcia.

Outras medidas ainda em cima da mesa são a compra por parte dos bancos centrais de cada país da dívida soberana respetiva e a compra pelo BCE de dívida pública emitida diretamente por empresas, enumeraram os analistas contactados pela Lusa.

/Lusa

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