Cientistas associam bactérias intestinais às fases iniciais da doença de Parkinson

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Bactéria intestinal porphyromonas gingivalis

As alterações nas bactérias encontradas na boca e no intestino dos doentes de Parkinson podem funcionar como um sinal de alerta precoce de que os seus sintomas estão a piorar, sugere uma nova investigação.

Uma equipa de cientistas recorreu a inteligência artificial (IA) para associar as alterações bacterianas ao declínio cognitivo, que inclui problemas de memória e de aprendizagem, em pessoas com Parkinson.

Os resultados do estudo, conduzido por investigadores do King’s College de Londres, foram apresentados num artigo publicado em maio na revista Gut Microbes.

As toxinas podem ser utilizadas como “marcadores” para os médicos identificarem os doentes de Parkinson com maior risco de desenvolver demência, bem como ajudar a desenvolver tratamentos específicos para a doença, afirmam os investigadores.

A doença de Parkinson é uma doença degenerativa que afeta o cérebro, com sintomas que incluem movimentos involuntários, conhecidos como tremores, bem como problemas psicológicos como depressão, perda de equilíbrio, dificuldade em dormir e problemas de memória.

“O intestino humano e as comunidades bacterianas orais estão cada vez mais ligados a doenças neurodegenerativas”, afirma Saeed Shoaie, diretor do Laboratório de Biologia Quantitativa de Sistemas (QTS) do King’s College, e autor principal do estudo, em comunicado da universidade.

“As perturbações no eixo intestino-cérebro podem desencadear inflamações e respostas imunitárias que contribuem para os danos neuronais. Uma bactéria comum da doença das gengivas, como a porphyromonas gingivalis, é conhecida como um potencial fator de Alzheimer”, afirma Shoaie.

As 228 amostras de saliva e fezes analisadas no estudo provinham de 41 pacientes com Parkinson e défice cognitivo ligeiro (que causa problemas de pensamento e memória), 47 pacientes com Parkinson e demência, e 26 pacientes saudáveis.

Os resultados do estudo permitiram à equipa concluir que o intestino das pessoas com deficiência cognitiva continha mais bactérias nocivas, muitas das quais provavelmente provenientes da boca.

Bactérias nocivas ao microscópio

Segundo os investigadores, estas bactérias libertam toxinas que podem danificar o tecido intestinal, promover a inflamação e afetar potencialmente o cérebro.

Para uma análise mais aprofundada, a equipa utilizou a IA para identificar as espécies e funções bacterianas que normalmente não são detetadas pelos testes tradicionais, o que lhes permitiu associar as toxinas especificamente ao declínio cognitivo.

“As provas emergentes sublinham a importância potencial da manutenção da saúde oral e intestinal para atenuar ou abrandar os processos neurodegenerativos”, acrescentou Shoaie.

“À medida que as pessoas com Parkinson se tornam cada vez mais dependentes de cuidados com ajuda de terceiros, as práticas de rotina, como a higiene oral e a ingestão nutricional, podem ser negligenciadas”, detalhou o investigador.

“Ainda não sabemos se as bactérias estão a causar o declínio cognitivo ou se as alterações no corpo devido à doença de Parkinson permitem o crescimento destas bactérias”, explica por seu turno o primeiro autor do estudo, Frederick Clasen.

“As nossas descobertas sugerem no entanto  estas bactérias podem desempenhar um papel ativo no agravamento dos sintomas”, salienta o investigador.

 

“Os nossos resultados sugerem que a promoção de um microbioma saudável através de cuidados orais consistentes, de uma dieta equilibrada e de intervenções probióticas potencialmente direcionadas pode ajudar a melhorar a gestão da doença de Parkinson”, concluiu Saeed Shoaie.

José Costa, ZAP //

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