O embaixador de Cabo Verde em Portugal explicou, esta sexta-feira, que a mãe e os irmãos da cabo-verdiana suspeita de abandonar o filho num ecoponto estão a tentar obter a guarda da criança por acreditarem que é a melhor solução.
Num esclarecimento solicitado pela agência Lusa, Eurico Correia Monteiro referiu que, desde que a Embaixada de Cabo Verde soube do caso, “mostrou o seu interesse em apoiar tanto a Sara como o seu filho, na presunção de que normalmente só em circunstâncias excecionais de profundo desespero ou desequilíbrio emocional acentuado uma mãe abandonaria o seu filho num ecoponto”.
No âmbito destes contactos, a Embaixada de Cabo Verde estabeleceu contacto com o estabelecimento prisional e com a advogada da jovem, com a mãe e os irmãos e dispôs-se “a fornecer apoio concreto de sorte a assegurar a defesa da Sara, conforme mandam as regras, deixando a justiça correr os seus trâmites, na convicção de que no final será feita justiça”.
Segundo o diplomata, “a família da Sara reiterou que nunca teve quaisquer indícios que pudessem levar a entender que a Sara vivia em condições tão precárias”.
“A mãe e os irmãos declararam o seu firme propósito de fazer todas as diligências necessárias e, para tanto, contrataram com um escritório de advogados para obter a guarda do neto e sobrinho, pois têm a profunda convicção de que essa solução é a que corresponde melhor ao interesse da criança”, segundo Eurico Correia Monteiro.
Os familiares da cabo-verdiana, prossegue o embaixador, “entendem ainda que, no futuro, se o filho da Sara vier a tomar conhecimento dos factos, ao menos saberá que a família natural, biológica, o acolheu com todo o amor e carinho, e sentir-se-á menos rejeitado, mais confortado”.
“Esta pretensão da família, independentemente do seu mérito, também merece assistência consular por parte desta embaixada, nomeadamente em matéria de patrocínio”, acrescentou.
O embaixador referiu que, apesar de confiarem na justiça e nas instituições portuguesas, “a mãe e irmãos da Sara manifestaram alguma preocupação pela circunstância de até ao presente momento não terem sido chamados, de forma direta ou indireta, para participar num processo que tem como finalidade dar um destino ao seu neto e sobrinho”.
“Acreditam que as instituições portuguesas não tomarão qualquer decisão relevante nesta matéria à revelia da avó e dos tios do filho da Sara”, adiantou.
O recém-nascido foi encontrado num caixote do lixo, no dia 5 de novembro, sendo a mãe suspeita de o ter abandonado num ecoponto perto de Santa Apolónia, em Lisboa.
A criança esteve até quinta-feira hospitalizada na Maternidade Alfredo da Costa, mas já está com uma família de acolhimento, conforme decisão do Tribunal de Família e Menores de Lisboa.
A mãe da criança foi detida pela Polícia Judiciária (PJ) e está em prisão preventiva, indiciada da prática de homicídio qualificado na forma tentada. A sua advogada já anunciou que vai interpor um recurso da medida de coação decretada pelo tribunal de instrução criminal.
Ana Maria Lopes decidiu avançar com o recurso depois de ter recebido a garantia escrita, por parte de uma instituição que contactou, de que poderia acolher a mulher em regime de prisão domiciliária.
O Supremo Tribunal de Justiça rejeitou, na semana passada, o pedido de habeas corpus para a libertação da jovem, alegando que a arguida agiu de forma premeditada, “ocultando a gravidez e munindo-se de um saco de plástico para o efeito”.
ZAP // Lusa