O presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, entende que “a intromissão do Governo português permite-nos uma especulação legítima relativamente à independência das pessoas nomeadas pelo nosso Governo”.
O presidente da Câmara de Coimbra levantou, esta segunda-feira, dúvidas sobre a independência das escolhas feitas pelo júri na primeira fase de seleção da Capital Europeia da Cultura 2027, em que o concelho foi eliminado.
“Deveria ser um júri exclusivamente nomeado por Bruxelas sem nenhuma nomeação, eventualmente de caráter político. A intromissão do Governo português permite-nos uma especulação legítima relativamente à independência das pessoas nomeadas pelo nosso Governo”, afirmou José Manuel Silva, que abordou a matéria na reunião do executivo, a primeira após a divulgação do relatório que justifica as escolhas do júri na fase de seleção de quatro finalistas.
José Manuel Silva recordou que a anterior ministra da Cultura, Graça Fonseca, aquando do anúncio dos quatro candidatos, congratulou-se com o facto de serem de quatro regiões diferentes.
“O critério regional não fazia parte dos critérios da seleção e inquinou o processo. Houve fatores externos que condicionaram as escolhas do júri e isso não poderia ter acontecido”, referiu o autarca eleito pela coligação Juntos Somos Coimbra.
Salientando que não quer pôr em causa a seriedade ou qualidade das pessoas nomeadas pelo Governo para o júri, José Manuel Silva salientou que não deveria haver dúvidas sobre a independência do processo. “As especulações são legítimas e devem levar a uma reflexão sobre a forma como o processo foi conduzido”, disse.
O presidente da Câmara de Coimbra, que tem a pasta da cultura, rejeitou quase todas as críticas apontadas pelo júri da Capital Europeia da Cultura 2027, defendendo o ‘bid book’ (livro de candidatura) que tinha sido apresentado pelo grupo de trabalho, nomeado pelo anterior executivo (de maioria PS).
“Talvez o ‘bid book’ tenha sido muito sério, objetivo e muito centrado num projeto cultural e menos retórico”, referiu, considerando o processo de seleção “completamente subjetivo”.
Recusando as críticas, José Manuel Silva realçou que o município vai transformar o ‘bid book’ rejeitado pelo júri num trajeto que vai orientar “a atividade cultural de Coimbra nos próximos anos”.
Também a vereadora do PS Carina Gomes, que no anterior executivo assumiu a pasta da cultura, subscreveu as palavras do presidente da Câmara.
O vereador da CDU, Francisco Queirós, acompanhou a posição, reconhecendo o papel do grupo de trabalho e agradecendo aos muitos agentes que “contribuíram a diversos níveis para esta proposta e esta candidatura”, que foi rejeitada.
O júri da Capital Europeia da Cultura considerou que não havia uma estratégia de longo prazo em ação, que o programa tinha falta de diversidade quanto a géneros e formas de expressão artísticas e mostrou preocupação com a ausência de ‘open calls’ para envio de projetos e propostas, entre outros problemas detetados.
“O painel considerou a candidatura subdesenvolvida nesta altura da competição e não está convencido que Coimbra 2027 conseguiria levar o programa para o elevado nível artístico e dimensão europeia exigidos para uma Capital Europeia da Cultura”, concluiu.
// Lusa