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Ataque de orcas afunda veleiro na Costa da Caparica

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Mercedes-Benz Oceanic Lounge

Veleiro do clube de vela Nautic Squad naufraga ao largo da Costa da Caparica após interação com orcas

Uma interação com um grupo de orcas causou este sábado o naufrágio de um veleiro ao largo da Costa da Caparica, em Almada. Uma segunda embarcação necessitou também de ajuda após o encontro com o grupo de cetáceos, conhecidos como “baleias assassinas”.

Um barco de recreio com cinco pessoas a bordo afundou este sábado, a cerca de cinco milhas náuticas ao largo da praia da Fonte da Telha, na Costa da Caparica, após uma interação com um grupo de orcas que provocou danos no leme da embarcação.

Segundo a Autoridade Marítima Nacional (AMN), uma segunda embarcação, com quatro pessoas a bordo, necessitou de auxílio após um encontro com o grupo de cetáceos ao largo da Baía de Cascais. A embarcação foi retirada do local com o auxílio de uma outra que se encontrava nas proximidades.

As nove pessoas que seguiam nas duas embarcações tiveram de ser auxiliadas, mas, nos dois casos, “constatou-se que os tripulantes se encontravam bem fisicamente, sem necessidade de assistência médica“, indicou a AMN.

Depois de um período de alguma tranquilidade, este é o segundo caso em poucos dias de uma interação de orcas com barcos de recreio nas costas de Portugal e Espanha, depois de uma embarcação ao largo da Galiza ter sido atacada na semana passada.

De acordo um comunicado da AMN, o alerta foi recebido pelas 12:30, através do Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo de Lisboa, tendo sido mobilizados, “de imediato”, tripulantes da Estação Salva-vidas de Cascais e da Capitania do Porto de Lisboa.

Segundo relatou ao Público Bernardo Queiroz, director do Mercedes-Benz Oceanic Lounge, que registou o momento em que as orcas interagiram com a embarcação que naufragou na Costa das Caparica, o incidente ocorreu por volta das 12h.

O barco do Mercedes-Benz Oceanic Lounge estava numa viagem de observação de golfinhos quando “notou movimentos erráticos” no veleiro que se encontrava nas imediações. Ao aproximar-se, perceberam tratar-se de um grupo de quatro orcas, conta Bernardo Queiroz.

No decorrer da interação, as orcas terão danificado o leme do veleiro, que começou a meter água. As embarcações que acorreram ao local tentaram rebocar o veleiro, mas o barco acabou por afundar-se, já com toda a tripulação resgatada.

Nas imagens captadas pelo Mercedes-Benz Oceanic Lounge, é possível ver os contactos das orcas com um veleiro, no que parecem ser empurrões com a cabeça e com o corpo.

A embarcação do Mercedes-Benz Oceanic Lounge captou também o momento em que o veleiro, do clube de vela Nautic Squad, naufragou.

Um Hábito Bizarro

Este é o mais recente episódio de uma estranha e contínua saga que se desenrola nas águas costeiras de Espanha e Portugal desde 2019: as orcas desenvolveram um comportamento desconcertante: estão a atacar barcos, especificamente os seus lemes, e a destruí-los.

Os ataques não se limitam a um único grupo, e parecem ter-se espalhado por uma população específica e em perigo, nota o ZME Science.

As orcas estão entre as criaturas mais inteligentes do planeta. São organizadas, sociais e demonstram sinais claros de cultura. São também predadores supremos dos oceanos, tão dominantes que brincam até com tubarões brancos e comem os seus fígados.

É pouco provável que iniciem algo assim de forma aleatória.

Entre 2020 e 2023, registaram-se cerca de 500 ataques de orcas a embarcações, com uma frequência que tem vindo a aumentar. Nenhum humano foi ferido durante estas interações, mas 20% dos barcos sofreram danos, e várias embarcações ficaram incapacitadas.

Depois de um período de menor intensidade, os ataques voltaram a aumentar. A Guarda Civil de Pontevedra, agência de segurança espanhola, partilhou recentemente nas redes sociais um vídeo no qual dá a conhecer que as orcas tinham atacado várias veleiros.

Porquê acontecem estes ataques?

O mistério parecia ter sido resolvido, mas na verdade não existe ainda uma resposta definitiva para explicar o comportamento das orcas, mas há algumas pistas.

Tudo começou com um pequeno grupo de orcas, uma subpopulação de orcas ibéricas, uma população criticamente ameaçada, com menos de 40 indivíduos. Este número reduzido torna o comportamento único ainda mais significativo.

O comportamento começou com apenas algumas orcas jovens. Agora, parece ser uma tendência generalizada dentro do grupo.

Os cientistas acreditam que os responsáveis são muitas vezes os jovens, os “adolescentes do mar”. Tal como os adolescentes humanos, estão cheios de energia e aparentemente não têm medo de experimentar coisas novas. Isto sugere que o comportamento pode não ser propriamente agressivo.

As interações podem ser lúdicas, resultado da curiosidade natural dos mamíferos marinhos. Geralmente, parecem atacar o leme, algo que torna o barco imóvel, dando-lhes mais tempo de observação e brincadeira.

Mas também pode tratar-se de um ataque agressivo. As orcas podem ter sido feridas por embarcações e transmitido essa informação, identificando os barcos como perigosos.

De acordo com esta teoria, as orcas sabem que atacar a cauda de um animal pode imobilizá-lo, e podem estar a aplicar a mesma lógica aos barcos, destruindo os lemes. Isto poderia ser uma forma de vingança ou prevenção de danos.

Por fim, o comportamento também pode estar ligado a uma tendência cultural.O conceito de “modas culturais” entre orcas não é novo. São incrivelmente sociais, com culturas complexas que variam entre grupos. Têm dialetos próprios, vocalizações únicas que funcionam como uma língua, transmitida entre gerações.

Observou-se que participam em rituais sociais complexos, desde esfregar os corpos entre si de forma lúdica até tocarem suavemente as línguas uns dos outros.

As orcas  têm também um histórico de comportamentos temporários e estranhos, sem propósito claro.

Um exemplo famoso é a “moda do salmão na cabeça”, em que um grupo de orcas do Noroeste do Pacífico nadava com salmões mortos sobre a cabeça, sem finalidade aparente, apenas porque… era moda. Fizeram-no durante algum tempo e depois abandonaram.

Qualquer que seja a razão, após um período de aparente tranquilidade, os ataques de orcas estão de volta.

ZAP //

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