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As tecnologias de reprodução humana podem “acabar com o sexo como o conhecemos”

Um professor de genética explica porque é que as novas tecnologias de reprodução humana podem revolucionar a forma como olhamos para o sexo — que em breve será “inútil” do ponto de vista da continuação da espécie.

As pessoas continuarão a fazer sexo nos próximos anos, mas por razões diferentes: simplesmente não o farão tanto para fazer bebés. Assim explica o especialista em genética Henry Greely na Science Focus.

Isto não quer dizer que fazer bebés se tornará obsoleto, mas sim que a tecnologia irá mudar a forma como o fazemos. Poderá haver uma forma muito mais segura e fácil de nos reproduzirmos — e o sexo, tal como o conhecemos, poderá acabar.

A mudança radical será a gametogénese in vitro (IVG) — ou seja, transformar células da pele em células estaminais pluripotentes induzidas e depois transformá-las em óvulos e espermatozóides. A IVG é tremendamente entusiasmante para milhões de casais, mas levanta algumas questões complicadas, explica o professor da Universidade de Stanford.

Por exemplo, se pudéssemos produzir óvulos a partir de células da pele, pessoas de 90 anos poderiam tornar-se pais genéticos. O mesmo aconteceria com crianças, fetos abortados ou pessoas mortas há anos, mas cujas células foram congeladas.

Mas há outras tecnologias que podem acabar com a reprodução tal como a conhecemos.

É, nomeadamente, possível modificar o ADN de um embrião. A edição orientada de sequências específicas no ADN de uma célula tornou-se possível graças a uma ferramenta revolucionária, inventada em 2012, que visa as sequências de ADN CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats). No fundo, o ADN é modificado.

Em novembro de 2018, o cientista chinês He Jiankui anunciou o nascimento de duas meninas cujos embriões tinham sido alterados através da técnica CRISPR no início desse ano. Mas o investigador fez este trabalho em segredo, de uma forma que violou tanto a ética da investigação humana como a lei chinesa. Um tribunal chinês condenou-o a três anos de prisão, conta o cientista.

Mas essa “edição” do ADN pode permitir a prevenção de doenças ou condições incapacitantes nas crianças. Só que, por outro lado, e elevando esta modificação a um exponente máximo, criar “super-bebés” que não só teriam capacidades superiores, como também as transmitiriam aos seus descendentes, pode ser perigoso. Há quem acredite que que nunca deveríamos ser autorizados a alterar o ADN dos nossos descendentes.

Outra tecnologia que poderia tornar o sexo para reprodução ainda mais redundante é o desenvolvimento de úteros artificiais. Há mais de 90 anos, no livro Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley previam-se já “incubadoras” nas quais os fetos humanos se desenvolveriam em garrafas.

Em 2017, investigadores relataram ter mantido vivos cordeiros neonatais nascidos uma ou duas semanas mais cedo em sacos de plástico cheios de líquido. Mais recentemente, a Food and Drug Administration dos EUA realizou uma reunião pública para analisar se, quando e como realizar ensaios com estes úteros artificiais em bebés.

Uma grande vantagem desta tecnologia é a possibilidade de ajudar a salvar partos muito prematuros.

Mas estas tecnologias são difíceis de testar, e isso tem de ser feito com muito cuidado, uma vez que as vidas dos bebés podem ser postas em risco. Assim, “temos de dar ênfase ao seu bem-estar em primeiro lugar, e depois aos efeitos mais alargados nas nossas sociedades“, escreve o cientista, mas o caminho para a reprodução artificial não pode ser estagnado, e é por aí que passa o futuro.

Então e o sexo? Bem, “o sexo, tal como o conhecemos, poderá acabar“, diz Greely. Mas somos humanos e, portanto, encontraremos nele outras utilidades.

ZAP //

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