As raspadinhas estão a deixar os portugueses doentes

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Há 30 mil portugueses com perturbação de jogo patológico, por causa do vício das raspadinhas. É preciso mais regulamentação e campanhas informativas.

Cerca de 100 mil portugueses têm problemas de jogo com raspadinhas.

A conclusão é do estudo “Quem Paga a Raspadinha?” do Conselho Económico e Social (CES), acessado esta terça-feira pelo jornal Público.

Este número representa 1,21% da população adulta.

O relatório concluiu ainda que 30 mil dessas pessoas estão doentes. Têm perturbação de jogo patológico.

“Há uma diminuição da capacidade de decidir de forma racional acerca de comportamentos relacionados com o jogo, de avaliar as consequências negativas do jogo e em que a pessoa passa a ter uma ilusão acerca daquilo que é o seu nível de controlo ou a probabilidade de ganhar”, disse, ao Público, o psiquiatra e investigador da Universidade do Minho Pedro Morgado, um dos coordenadores do estudo.

“Além disso, há uma memória distorcida em relação às vezes que venceu alguma coisa e às vezes em que perdeu somas avultadíssimas, e por causa e apesar das consequências negativas, continua a jogar mais e mais e mais para tentar recuperar e reparar tudo o que foi perdido”, explicou.

De acordo com o estudo, a probabilidade de uma pessoa que recebe menos do que o ordenado mínimo jogar com frequência a raspadinha é três vezes maior em relação a quem ganha mais de 1500 euros mensais.

“Em Portugal, as raspadinhas são pagas de forma muito assimétrica. Temos as pessoas com menos instrução escolar com muito maior probabilidade de serem jogadores frequentes, [assim como aquelas] com menos rendimentos e mais vulneráveis do ponto de vista económico”, esclareceu Pedro Morgado.

“As que têm maior risco de desenvolver doenças associadas ao uso de raspadinhas são também pessoas com piores indicadores de saúde mental, em geral, incluindo sintomas de ansiedade, depressivos ou de stress; e também com piores hábitos no que diz respeito ao uso de substâncias”, acrescentou.

Qual é a solução?

Acabar com o jogo não é solução, uma vez que isso, provavelmente, iria “gerar situações de jogo clandestino, ilegal, que também não são positivas e têm consequências muito nefastas.

“Precisamos é de uma melhor regulamentação“, defendeu Pedro Morgado.

“Devíamos ter campanhas informativas que ajudem as pessoas a ter maior literacia acerca deste jogo, porque o que vimos é que há muitas pessoas que gastam muito dinheiro em raspadinhas mas que nos dizem que não jogam jogos de sorte e azar ao longo do ano. Não têm a perceção de que a raspadinha é um jogo de sorte e de azar e que, na esmagadora maioria das situações, é mesmo um jogo de azar”, alertou.

De acordo com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), em 2020, os portugueses gastaram quase 1,4 mil milhões de euros na raspadinha.

Miguel Esteves, ZAP //

2 Comments

  1. “Os Portugueses doentes” , é un pouco exagerado . Sou Português e podem querer que ganho bastante com os Jogos da Sorte ! ……… Como ? ….não jogando e utilizando o pouco que tenho para o essencial .

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