As mulheres (e, sobretudo, o seu cabelo) mudaram a economia da Coreia do Sul

Os coreanos encaravam o cabelo como um precioso presente dos seus pais. No entanto, após a Guerra da Coreia, que terminou no ano 1953, muitas famílias economicamente devastadas viram-se obrigadas a recorrer a este “bem”, que se tornou subitamente uma mercadoria valiosa.

O Atlas Obscura conta a história de Kang Chae An que, na altura, viu a sua mãe insistir no seu corte de cabelo, sem perceber o motivo da insistência.

“Eu não estava pronta para cortar o meu cabelo. Os adultos agarraram-me e cortaram-no”, recorda Kang, agora com 68 anos. “Estava tão traumatizada que ainda me lembro muito claramente desse dia.”

“A minha mãe faleceu e eu nunca lhe perguntei porque é que ela me fez isso”, continua Kang, que, apesar de tudo, tem as suas suspeitas. Uma vez, ouviu a mãe dizer às vizinhas que tinha usado o dinheiro da venda do cabelo para comprar arroz, farinha e massa. “Precisávamos do dinheiro para alimentar a família.”

A Coreia do Sul – onde o corte de cabelo tinha sido considerado tabu durante séculos – exportou 474 toneladas métricas de cabelo humano para abastecer a indústria global de perucas em 1954, um feito que colocou as mulheres no centro da transformação do país, que passou de uma sociedade devastada pela guerra para a moderna e económica potência que é hoje.

Segundo Jason Petrulis, professor de História na Universidade de Hong Kong, a indústria das perucas nasceu em Paris, em 1958. Na altura, as perucas de alta gama eram “feitas na Europa a partir de cabelo europeu”, mas em meados da década de 1960, a fonte mudou da Europa para a Ásia.

A oferta abundante e barata de cabelo da China, Vietname, Índia, Coreia do Norte e do Sul transformou as perucas de um luxo topo de gama para um acessório de custo médio para as mulheres ocidentais.

O Atlas Obscura salienta que, em 1964, as vendas de perucas totalizaram um mísero valor de 14 mil dólares. Em 1970, seis anos depois, trouxeram à Coreia do Sul mais de 93 milhões de dólares em receitas anuais.

No seu auge, chegaram a representar 9,3% das exportações da Coreia do Sul.

ZAP //

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