Uma nova investigação revelou uma limitação muitas vezes esquecida na mobilidade das girafas, que desafia perceções antigas da sua adaptabilidade a certas paisagens.
Quando imaginamos as girafas a vaguear pelas savanas africanas, lembramo-nos como a sua liberdade é ilimitada. Mas será mesmo assim?
Um novo estudo revelou recentemente que a sua realidade é bem mais limitada do que pensávamos, ditada pela disponibilidade de água e comida mas também pelos próprios contornos da terra.
A investigação, apresentada na Reunião Anual da Sociedade Ecológica Britânica em Liverpool, identificou a inclinação do terreno como um fator definitivo que influencia o movimento das girafas.
O estudo envolveu o rastreamento dos movimentos de 33 girafas com GPS (10 machos e 23 fêmeas) em cinco reservas sul-africanas.
Segundo o EurekAlert, os dados revelaram que as girafas apresentam uma forte preferência por terrenos planos, tolerando apenas inclinações de até 12 graus quando a recompensa — vegetação exuberante ou rica em nutrientes — supera o esforço.
Já declives mais íngremes do que 20 graus apresentam um limite absoluto, o que torna estas áreas inacessíveis para estes animais.
“O nosso estudo mostra que as girafas preferem muito mais áreas planas”, explicou Jessica Granweiler, candidata a doutoramento na Universidade de Manchester, no Reino Unido. “Estes animais toleram alguma inclinação para ter acesso a comida, mas não conseguem alcançar áreas acima de um gradiente de 20°. É chocante quando olhamos para os mapas de distribuição.”
Na Namíbia e na Tanzânia, há aproximadamente 8.000 km2 que podem ser inutilizáveis para as girafas, quase metade do tamanho do País de Gales. Já no Quênia e na África do Sul, há aproximadamente 4.000 km2 que podem ser inutilizáveis.
Mas “o que é ainda mais preocupante é que, de todos os países que mapeamos, um em cada três tinha mais áreas inutilizáveis em áreas protegidas do que fora delas”, sublinhou a investigadora.
Este problema torna-se ainda maior quando as reservas são cercadas, o que acontece muito na África do Sul. “Se uma reserva tem 200 hectares, mas tem uma grande montanha no meio, da perspetiva de uma girafa, essa reserva não tem mais de 200 hectares”, disse Jessica. “É necessário começar a incluir a topografia no planeamento de conservação de girafas e avaliações de habitat.”