As falácias de Passos Coelho e Ventura sobre a imigração

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Tiago Petinga / Lusa

O ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, com o líder do Chega, André Ventura

Pedro Passos Coelho apareceu na campanha da Aliança Democrática (AD) com um discurso alarmista sobre imigração – igualado ao do “amigo” André Ventura. Mas terá o antigo primeiro-ministro fundamentos para tal?

Depois de muito suspense, Luís Montenegro tirou o [Pedro Passos] Coelho “da cartola” e trouxe o antigo líder do Partido Social Democrata (PSD) para a campanha da AD.

Passos Coelho, que foi primeiro-ministro de Portugal entre 2011 e 2015, discursou esta segunda-feira num comício da AD, em Faro, onde fez estalar a polémica, quando tentou associar a imigração à insegurança no país.

“Lembro-me de uma intervenção em 2016, em que disse que precisamos ter um país aberto à imigração, mas cuidado que precisamos de ter também um país seguro. O Governo fez ouvido moucos disso. Na verdade, hoje as pessoas sentem uma insegurança que é resultado falta de investimento”, considerou.

No mesmo dia, num comício do Chega, em Sever do Vouga (Aveiro), André Ventura agradeceu ao “amigo”, considerando que Passos Coelho quis dizer aos sociais-democratas: “ponham os olhos no Chega”.

“Queria agradecer ao meu amigo Pedro Passos Coelho por ter conseguido em poucos minutos de discurso ter explicado a Luís Montenegro tudo o que eu ainda não consegui explicar em dois anos de liderança de Luís Montenegro”, ironizou André Ventura.

Na reação, vários líderes partidários criticaram o discurso do social-democrata, comparável ao de Ventura e “indesculpável para um antigo primeiro-ministro”, por alimentar um discurso de ódio que, por norma, é fomentado pela extrema-direita.

A citação é de Rui Tavares, líder do Livre, que lamentou as palavras “ignorantes” e esclareceu que Portugal continua a ser um dos países mais seguros do Mundo: “É uma ignorância muito grande em relação aos dados e factos, que são muito claros: somos um dos países mais seguros do mundo“.

“É mais fácil encontrar gente com cadastro, suspeita de crimes, alguns deles violentos, nas listas de certos partidos políticos nestas eleições, do que entre os imigrantes”, atacou Rui Tavares.

Inês Sousa Real, do PAN, também criticou a “cultura de medo” alimentada pela “agenda mais extremista da direita”.

Esta terça-feira, Luís Montenegro tentou “suavizar” as palavras de Pedro Passos Coelho, explicando que, nalguns casos, “é preciso regulação e é preciso que isso depois se expresse numa política de integração mais efetiva, para não criar zonas de insegurança, zonas onde as populações estão mais expostas”.

“Eu não estou a dizer que as pessoas vêm do estrangeiro para Portugal têm essa tendência para criar problemas”, advertiu o líder do PSD, “mas criam um sentimento, quando não são bem integradas”, acrescentou.

Será exatamente assim?

Vamos a números

Os números – que (quase) nunca enganam – desmentem o âmago das teses de Pedro Passos Coelho e André Ventura sobre o duo imigração-insegurança.

Estudos recentes indicam que o tema da imigração não está sequer no topo das preocupações da maioria dos portugueses.

Se, por um lado, é um facto que há cada vais imigrantes em Portugal; por outro, também é facto que há cada vez menos criminalidade associada a eles, em território nacional.

De acordo com o o extinto Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), em 2022, havia 782 mil imigrantes em Portugal (o equivalente a cerca de 8% da população) – número que entretanto já terá superado os 10%.

Curiosamente, o Relatório Anual de Segurança Interna mostrou que, nesse ano, houve um decréscimo de 7,8% da criminalidade violenta e grave, em relação a 2019, “o ano pré-pandemia”. No entanto, associado ao fim das “restrições da covid”, a criminalidade geral aumentou, relativamente a 2020 e 2021.

Ao Diário de Notícias, Catarina Reis de Oliveira, diretora científica do Observatório das Migrações revelou que, apesar da tendência crescente de imigração em Portugal, “os dados do Ministério da Justiça mostram uma diminuição dos crimes associados a estrangeiros e a reclusos estrangeiros”.

De acordo com a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, a 31 de dezembro de 2022, dos 12.383 reclusos apenas 1.900 eram imigrantes.

Ora, parece não haver nenhuma relação entre “imigração” e “criminalidade”, até porque, segundo estatísticas da Unidade Nacional Contra o Terrorismo da Polícia Judiciária (PJ), “99% dos imigrantes vêm por bem”.

“As pessoas são dignas, porque as pessoas vêm para aqui, costumamos dizer em termos policiais, 99% das pessoas que vêm para aqui é para trabalhar, é para melhorar, para tentar concretizar os seus sonhos, para serem dignos, e têm esse direito”, disse, na semana passada, David Freitas, coordenador dessa investigação criminal, em entrevista também ao Diário de Notícias.

Imigrantes contribuem mais

Dados da Segurança Social, consultados pelo DN, revelam que 87% dos imigrantes são contribuintes.

Em sentido contrário, com muito menos contribuição para o sistema, estão os portugueses: apenas 48 em cada 100 contribuem.

Imigrantes beneficiam menos

No que toca aos benefícios, para os imigrantes, a relação com o trabalho não é diretamente proporcional: apenas 38% beneficia de apoios sociais (contra 79% de portugueses).

Quem gera a “insegurança”?

De acordo com o Barómetro APAV/Intercampus, de maio de 2023, sobre a “Perceção de Criminalidade e Insegurança”, que envolveu 600 participantes, de facto, o “sentimento de insegurança” aumentou ligeiramente, em comparação com o inquérito anterior, de 2017. Contudo, como notou o Polígrafo, neste inquérito não houve nenhuma referência a imigrantes.

Noutro inquérito, de setembro de 2023 do estudo “Imigração Sustentável Num Estado Social De Direito”, 78% das pessoas admitiu que a imigração pode ter riscos, com 60,5% a defender a expulsão dos imigrantes criminosos. Contudo, mais uma vez, estes números não indicam insegurança dos portugueses em relação aos estrangeiros.

68,7% dos inquiridos classificou a imigração como importante e 66,3% defendeu a atribuição do subsídio de desemprego a estrangeiros. Além disso, a frase “os portugueses devem receber bem os imigrantes” foi apoiada por 71,7%.

Quem gera, afinal, “insegurança” e medo?

Miguel Esteves, ZAP //

16 Comments

  1. Estas notícias em modo de artigos de opinião são complicadas…
    Então vejamos apenas um dado da própria notícia:
    “De acordo com a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, a 31 de dezembro de 2022, dos 12.383 reclusos apenas 1.900 eram imigrantes”. O apenas 1900 eram imigrantes corresponde a mais de 15% do total! E há que considerar que serão, talvez, uns 10% de imigrantes a viverem em Portugal… Fora os que acedem ao espaço da UE com cartão de cidadão português… estará estudado o comportamento destas pessoas? Concordo que a grande maioria está por bem e são bem-vindos, mas convém haver controlo!
    Há que dizer que todos estão por bem às famílias das duas mulheres assassinadas no ano passado por um afegão no Centro Ismaili, só para dar um exemplo recente.

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  2. Temos que ser sérios, quando escrevemos sobre um tema tão importante, este texto na minha opinião mistura e simplifica em demasia o assunto da imigração.
    Notas, temos de momento mais de 350.000 imigrantes ilegais em Portugal (estão à espera de ser atendidos???), e todos os dias chegam mais. Admiram-se depois da pressão sobre o preço das rendas, do sistema de saúde, das escolas e creches…
    Um trabalhador português contribui mais em cerca de 40% para o sistema que um trabalhador imigrante.
    Respondi a este inquérito sobre a imigração e concordo que a imigração é importante, e devemos receber os imigrantes bem e com dignidade, obviamente. Mas assumir “estes números não indicam insegurança dos portugueses”, não tem nada a haver com o assunto da insegurança. Para mim existe insegurança e isso nota-se nos centros das cidades a partir de uma determinada hora, relacionada com esta imigração selvagem, de portas abertas, e tende a piorar conforme ganhem confiança, e as suas necessidades aumentarem.
    A imigração é necessária, mas controlada e com regras.
    Volta SEF estás perdoado.

  3. Raul,
    A ocorrência (trágica) que refere, não se deu por ser emigrante, mas por ser desequilibrado e má pessoa, dessas que todo o mundo tem
    Ainda há dias tivemos notícia de um português emigrado na Suíça, que matou a mulher e o filho, ela Suíça e a criança com dupla nacionalidade; mais um jogador português que foi preso em Espanha por violação de uma mulher espanhola… e quantos mais casos dos mais diversos e não é por isso que deixam de aceitar e valorizar os portugueses no estrangeiro, e vice-versa.
    Temos que aprender a olhar para os casos com os dois olhos, não é verdade?

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  4. Lucinda, na Grécia parece que já haveria suspeitas do desequilibrado ter morto a esposa … Não houve foi uma triagem eficaz antes … É esse o problema!
    E mais, veja os casos com portugueses e os com árabes… Nem têm comparação!

  5. Raul,
    Qual triagem, qual quê!
    Quen é que faz (ou não faz) a triagem dos bandidos assassinos portugueses, que no seu país e não obstante as queixas na polícia, matam as mulheres? Uma estatística que não para de subir!
    A maldade não está gravada na testa. Os assassinos e malfeitores usam de artifícios para enganarem e para se fazerem perdoar, até à estocada final.
    Repito, o mal está nas pessoas. Nas de cá, nas de lá, nas que entram, e nas que saem. É incontornável. Não inventem. Isso é má fé, com laivos de xenofobia e racismo, mais nada.
    Para quem assim pensa, o melhor a fazer é fechar-se num buraco e morrer lá, para que os malandros imigrantes não os matem.
    Atenção que mesmo assim, correm o risco de serem mortos por “amigos” ou familiares.
    O melhor será viver e deixar viver, não lhe parece?
    O espaço geográfico onde nos situamos e que julgamos nosso, é só emprestado e passageiro.
    Quando chegar a nossa hora, levamos o que trouxemos à chegada : NADA!

  6. Lucinda, diga essas coisas às mulheres do Afeganistão! Está à brincar ou que? Elas não têm direitos nenhuns, são usadas e abusadas pelos homens e vem para aqui comparar essas culturas com os portugueses?
    Os muçulmanos mais radicais não aceitam a cultura ocidental, não querem a interculturalidade…
    De qualquer maneira, se acha que os bandidos portugueses são assim tantos e tão perigosos, sempre pode emigrar para o Afeganistão, não devem ter lá nenhum SEF e verá que será muito bem tratada…

  7. E x Lenine,
    Ha uma máxina que indica:
    “Quem está mal que se mude”
    É o seu caso, não o meu, que estou no sitio onde gosto de estar.
    Quanto às mulheres do Afeganistão, não há necessidade de se fazer transportar, para ver muitas idênticas em Portugal, debaixo das patas dos machistas, que ousam ditar-lhes como devem ser as suas vidas, que deles e da sua tirania fazem depender.
    E quando falar das mulheres do Afeganistão, ponha-se em sentido, porque são seres superiores à mesquinhez cobarde dos tiramos.
    As mulheres do Afeganistão são exemplos de força, determinação e coragem contra essa tirania, e muitas portuguesas também, para mal dos broncos que a direita valoriza, mas que arriscam a extinção, que não tarda.
    É um gosto, por cada um que desaparece.

  8. adoro esta esquerda caviar a defender bandidos, mas quando lhes toca a elas a historia muda de figura …. não é joana amaral dias ? o Bloco já não é o que era …..

  9. Vivo em Arroios, o bairro mais diversificado de Lisboa, tenho cerca de 12 restaurantes com arrendatários de várias étnias na minha rua, nunca há confusão ou discusões. Tenho uma scooter, que fica sempre estacionada na rua. Passeio a minha cadela às horas que me convêm, inclusive à noite, nunca me senti insegura e tenho uma óptima relação com todos. Os imigantes ajudam-se, não se vêem como concorrência nem causam problemas.

    O que o Passos Coelho fez foi dar um tiro no pé fatal. Acusar as pessoas que recebemos como bodes expiatórios de todos os problemas estruturais do país é obsceno e desonesto.

    Nunca votei em nenhum partido muito à esquerda, mas a direita que usa a imigração como pretexto manipulador e fomentador de medos infundados nunca terá o meu voto.

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  10. Parece que agora não é “politicamente correto” dizer que a imigração deve ser controlada. Claro que deve ser controlada e claro que se não o for aumenta o risco de insegurança. É tão óbvio que só a esquerda não entende ou finge não entender.

  11. Agora a Lucinda é Cecília? Confuso…
    Qual é essa rua com 12 restaurantes “étnicos”? Para conhecer… Segurança impecável, a comida e o preço podem ser igualmente fantásticos…

  12. É o que dá ver as coisas na perspetiva do longo prazo, bastando olhar para outros países, ou, querer ou fingir acreditar que, a manter-se a política de portas abertas sem nenhum controle, a insegurança nunca surgirá…bom senso, precisa-se. É muito giro dizermos que somos um povo muito inclusivo, acolhedor e simpático, mas isso não quer dizer que tenhamos de ser parvos e acreditar que isso não traz o reverso da medalha.

  13. Os artigos/notícias sobre imigração esquecem-se sempre de uma coisa muito simples: não é preciso haver motivos práticos para se querer reduzir o fluxo de imigrantes, basta querer, ponto.

    Basta não querer ver a nossa população alterada, os nossos costumes diluídos, a nossa língua bastardizada. É tão simples quanto isto.

    Não interessa se os imigrantes são trabalhadores, não são criminosos, contribuem com isto e com aquilo. Quando vamos a pequenas cidades e vilas e vemos brasileiros, africanos e indianos por todo o lado; quando vamos a Lisboa e parece antes que estamos em Luanda ou no Rio; quando muçulmanos se juntam em praças públicas para festejar o ramadão; tudo isto é mais que suficiente para o comum português querer fechar as fronteiras. E num país democrático, a vontade do povo é que vale, não a de uns quantos iluminados nas suas torres de marfim.

    Os portugueses na sua larga maioria, bem ou mal, certos ou errados, não querem viver num país “multicutural” e “multiétnico”. Querem um país com uma etnia, uma religião, uma cultura bem definidas, e a imigração em larga escala como tem acontecido e continua a acontecer ameaçar mudar irreversivelmente tudo isso.

    E os nossos dirigentes mais não devem fazer que cumprir a vontade do povo.

  14. De facto é confrangedor ler depoimentos como alguns que foram escritos, a propósito desta notícia, por portugueses! Nós que fomos talvez o povo que mais emigrou( e colonizou), que atravessou a salto a Espanha , os Pirinéus, para se instalarem aos milhares, clandestinamente, no bidonville em Paris, devíamos ter aprendido a ser mais tolerantes! Estamos um pouco por todo o mundo e os nossos hábitos culturais foram tolerados e alguns deles aceites! Até talvez o cachenez das nossas avós! Como é possível que este sr Passos Coelho entre na campanha eleitoral com tal discurso?! Como é que pode ter sido 1º ministro? Como é que pôde ser emigrante, em ‘Africa, num país que não era o dos seus e para o qual não tinha necessidade nenhuma de ter ido? Provavelmente foram à procura do el dorado!!! Mas que mentalidade mesquinha esta e donde veio? Provavelmente é de origem caucasiana! Ele até era louro!

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