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“Arquitetura hostil” em Lisboa: Não dá para sentar pessoas, mas dá para cartazes publicitários

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Infraestrutura Pública

Paragem sem banco, na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa

Muitos dos bancos que havia nas paragens de autocarro, em Lisboa, desapareceram, depois das obras. As entidades responsáveis dizem que a substituição teve que ver com a pouca estreiteza dos passeios. Continua a haver espaço para cartazes publicitários?

Já não há bancos em algumas paragens de autocarro em Lisboa.

Agora, há encostos que não servem quem mais precisa.

Na tentativa de ajudar a resolver este problema que as novas infraestruturas trouxeram, o grupo de cidadãos Infraestrutura Pública instalou um banco de madeira numa das paragens sem assentos da Avenida Fontes Pereira de Melo.

No entanto, um dia depois o banco desapareceu misteriosamente.

Tanto a Junta de Freguesia de Santo António como a Câmara Municipal de Lisboa dizem desconhecer a situação.

Ao Público, Marta Sternberg do coletivo Infraestrutura Pública dá a entender que o ato foi planeado, uma vez o banco “é demasiado pesado para alguém o roubar a pé ou de carro”. “Precisámos de duas pessoas e uma carrinha para o pôr na paragem”, acrescentou.

Banco substituído por encosto

As obras, que deveriam ter vindo facilitar a vida às pessoas, parecem ter vindo dificultá-la mais. Com a justificação de que não havia espaço nos passeios, os assentos de algumas paragens foram substituídos por encostos.

O coletivo não entende porquê e considera que a justificação da estreiteza do passeio “são desculpas”.

“Por que é que não aumentam a calçada três centímetros, o que já seria suficiente? Ou por que é que põem cartazes publicitários a meio da calçada se é assim tão estreita? Ontem o banco não prejudicou a vida a ninguém. Só ajudou”, disse Marta Sternberg.

“Eu ando de autocarro e uso estas paragens. Pensei que com as obras iam melhorar, mas depois percebi que só vieram atrapalhar e piorar o dia das pessoas porque tiraram coisas básicas”, como os bancos, atirou a ativista.

“Não fizemos o banco de madeira porque nos apeteceu. [Os bancos] são uma coisa que sempre tivemos e que, de um ano para o outro, desapareceram”, disse, em entrevista ao P3.

O tal banco de madeira foi colocado pelo Infraestrutura Pública no dia 20 de novembro. Ao longo desse dia, o coletivo teve gente na paragem, das 7h30 às 20h30, para registar reações e opiniões das pessoas, quanto à paragem.

Falaram com o grupo pessoas idosas, aleijadas, cansadas, crianças… todas pessoas diferentes, mas com uma opinião comum: os encostos não servem.

Na publicação, é possível ouvir as pessoas reclamar por bancos

“Falámos com um senhor que não usava muleta, mas que não podia estar em pé apoiado no encosto porque tinha o joelho inchado. Conhecemos uma senhora que não aguentava mais e sentou-se na janela de um banco e outra que trabalha o dia inteiro em pé numa pastelaria que nos disse que o banco era a única forma de descansar uns minutos antes de chegar a casa”, recordou Marta ao P3.

No dia seguinte, misteriosamente, o banco já lá não estava.

Tal como naquela paragem da Avenida Fontes Pereira de Melo, depois das obras, em Lisboa, muitas das paragens ficaram sem bancos.

Como refere o Público, com esta intervenção, o coletivo Infraestrutura Pública exige que a Câmara Municipal de Lisboa reponha todos os bancos das paragens de autocarro que foram substituídos por encostos.

No Manual de Espaço Público da Câmara Municipal de Lisboa, citado pelo matutino, pode ler-se que as paragens de autocarro devem estar, pelo menos, equipadas com “assento, papeleira, pilaretes, chapa identificadora”.

Miguel Esteves, ZAP //

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