O apelo ousado do Príncipe William sobre Gaza (e o que significa)

3

O Príncipe William destoou da habitual neutralidade política da Família Real e pediu o fim do conflito armado em Gaza, lamentando o elevado número de mortes, numa declaração que está a causar controvérsia.

“muitos foram mortos” e é preciso “acabar com os combates o mais rápido possível”. Estas são as palavras polémicas do Príncipe William a propósito da guerra que Israel combate em Gaza contra o Hamas.

A Família Real britânica costuma abster-se de assumir posições políticas, sobretudo nas questões mais complicadas, como é o caso do conflito em Gaza. Mas o Príncipe de Gales não se inibiu de o fazer antes de uma visita à Cruz Vermelha britânica em Londres.

William, de 41 anos, lamentou o “custo humano terrível” do conflito desde o ataque terrorista do Hamas a 7 de Outubro de 2023. Morreram 1200 pessoas nesse ataque e 240 foram levadas como reféns pelo grupo armado.

A operação de retaliação israelita que se seguiu já vitimou mais de 29 mil pessoas no território palestiniano, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza que é controlado pelo Hamas.

O Príncipe de Gales notou ainda que “há uma necessidade desesperada de maior apoio humanitário a Gaza” e apelou à libertação dos reféns que se mantêm nas mãos do Hamas.

“A mais ousada declaração” do Príncipe William

As declarações do Príncipe de Gales são vistas pelo jornal The Guardian como “uma rara e ousada incursão real no complexo mundo da diplomacia internacional e na longa e dolorosa história de ambos os lados do conflito israelo-palestiniano”.

Já o Telegraph diz que foi “a maior e mais ousada declaração pública” do Príncipe William até à data.

Há quem acredite que se tratou apenas de um posicionamento “ingénuo” do Príncipe de Gales que tem assumido o papel do pai, o Rei Carlos III, em algumas iniciativas públicas, depois de este ter iniciado tratamento contra um cancro.

Mas o Telegraph assegura que William “avaliou as opções e decidiu que valia a pena correr o risco de falar abertamente ao ver crianças inocentes envolvidas no conflito”.

“Isto é uma coisa pessoal para ele”

Em 2018, o Príncipe Williams tornou-se no primeiro membro da Família Real britânica a visitar a Cisjordânia ocupada por Israel. Esteve num hospital e numa escola administrados pelas Nações Unidas e ficou com uma “impressão duradoura”, como apontou aos elementos da Cruz Vermelha com quem falou na visita desta semana em Londres.

Isto é uma coisa pessoal para ele. Ele fala muito daquela viagem [em 2018] e do encontro com jovens dos dois lados”, conta ao Telegraph uma fonte próxima do Príncipe.

A mesma fonte salienta que o futuro Rei do Reino Unido está disposto a usar o seu mediatismo para “intervir em coisas em que realmente acredita”.

A correspondente real da Sky News Rhiannon Mills reforça essa ideia, notando que William não teme “arriscar a sua reputação” por acreditar que a sua intervenção “pode fazer a diferença pelos que sofrem dos dois lados”.

Mas este posicionamento determinado do Príncipe também é sinal da sua “crescente confiança na diplomacia internacional”, considera o Telegraph.

Agora, a grande questão é se foi um caso isolado, ou se William fará disto “um hábito” e se definirá desse modo o “seu legado” enquanto monarca, constata o jornal britânico.

Governo pode ter “encorajado” o Príncipe William

O Príncipe de Gales terá informado o Governo britânico previamente antes das suas declarações, segundo adianta a BBC.

Mas há especulações de que o Governo pode ter tido um papel mais activo no processo. Alguns comentadores acreditam que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Lord Cameron, “pode ter iniciado a intervenção real”, como cita o The Guardian.

Numa altura em que crescem os apelos para um cessar-fogo em Gaza, o Governo britânico pode ter “encorajado” o Príncipe William a falar desta forma “para aumentar a pressão sobre Israel“, constata ainda o The Guardian.

Foi “longe demais”

Entretanto, os políticos da direita britânica já vieram apontar o dedo ao jovem monarca.

No Partido Conservador, Stewart Jackson fala de uma intervenção “inoportuna e mal avaliada”. Já o ex-líder do UKIP, Nigel Farage, diz que o Príncipe deu um “passo longe demais” e que se deveria limitar a “apresentar os Baftas”.

Mas o porta-voz do primeiro-ministro do Reino Unido ficou agradado com as palavras do Príncipe. “Queremos ver um fim nos combates em Gaza o mais depressa possível, por isso é consistente com a posição do Governo“, salienta citado pela imprensa britânica.

Em Israel, a abordagem é cautelosa, para já.

O porta-voz do Governo israelita, Eylon Levy, notou que os cidadãos de Israel também querem “ver um fim nos combates o mais depressa possível”, mas avisando que isso só “será possível logo que os 134 reféns sejam libertados e que o exército terrorista do Hamas que ameaça repetir as atrocidades de 7 de Outubro seja desmantelado“.

A próxima visita é a uma sinagoga

Durante a visita à Cruz Vermelha britânica, o Príncipe William foi informado de que sem receberem medicamentos e combustível, os hospitais de Gaza podem tornar-se “cemitérios”.

Além disso, a distribuição de ajuda humanitária está a ser muito difícil devido aos assaltos a camiões por parte de “multidões esfomeadas”.

O Príncipe William também planeia visitar uma sinagoga proximamente, para alertar para o anti-semitismo crescente.

Aquando dos ataques do Hamas em Outubro passado, o monarca e a mulher Kate Middleton estiveram entre as inúmeras figuras públicas que fizeram questão de condenar e lamentar os hediondos actos de terrorismo.

Susana Valente, ZAP //

3 Comments

  1. Quero ver se os judeus ficarão melindrados com tal declaração, pois atacam qualquer um que se pronuncie a respeito dos seus atos, ainda que estes sejam os menos ortodoxos e humanos.

  2. Israel, com o ataque indiscriminado a Gaza, matando mulheres, crianças e civis, e tratando os Palestinos como não pessoas, está a perder todo o capital de simpatia que existia em relação aos Judeus por terem sido vítimas do Holocausto e do Hamas.

  3. O país com a espionagem, guerra electrónica, informadores comprados ,do mundo, aquele que compra a carcaça dos aviões de guerra e depois “ tudo lá é colocado” de modo cirúrgico , deixar se “ invadir” e “ deixar” matar nacionais!! Uiii só quem não os conhece. Os tais que vêm dar formação do material de guerra que vendem e ao almoço levam o disco duro do computador!!
    Às tantas “ fizeram “ como os seus amigos, deitaram as torres gémeas abaixo com os detonadores previamente colocados…Ai…adoro ver TV…

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.