População de Gaza está a comer erva e beber água poluída devido ao cerco israelita

O desespero da população palestiniana está a levar a que pessoas comam erva e bebam água imprópria para consumo. Cerca de 400 mil pessoas estão a passar fome.

O bloqueio israelita à entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza está a obrigar a população a comer erva e beber água poluída devido à fome desesperante.

Mesmo antes do ataque de 7 de Outubro, dois terços dos palestinianos em Gaza já dependiam de ajuda para comer. Desde a recente escalada do conflito, toda a população de 2,2 milhões está a sofrer de níveis agudos de insegurança alimentar, principalmente no norte de Gaza. Martin Griffiths, chefe de socorro de emergência das Nações Unidas, antecipa que 400 mil civis estejam mesmo a passar fome.

Hanadi Gamal Saed El Jamara, uma mãe de 38 anos com sete filhos, afirma que dormir é a única coisa que ajuda a distrair as crianças esfomeadas. “Eles estão fracos agora, têm sempre diarreia, os rostos estão amarelos. A minha filha de 17 anos sente-se tonta, o meu marido não está a comer”, revela à CNN.

Mohammed Hamouda, um fisioterapeuta e pai de três filhos, têm muitos familiares e amigos ainda no norte da Faixa de Gaza, que está a sofrer mais com as incursões e bombardeamentos israelitas. “Eles comem erva e bebem água poluída. As pessoas massacraram um burro para comer a sua carne”, revela.

Hamouda costumava alimentar os filhos, de seis, quatro e dois anos, com misturas de frutas, vegetais, biscoitos, carne e frutos do mar. Mas agora, comem apenas uma refeição por dia à base de pão seco e leguminosas enlatadas.

“As crianças estão a ser violentas umas com as outras para tentarem comer e beber água. Não consigo impedir as lágrimas quando falo destas coisas porque é muito duro ver os meus filhos e outras crianças a passar fome”, lamenta.

Segundo a UNICEF, todas as 350 mil crianças com menos de cinco anos que vivem em Gaza estão em risco de subnutrição. Vários especialistas em direitos humanos das Nações Unidas já acusaram Israel de estar deliberadamente a “destruir o sistema alimentar de Gaza e a usar a comida como uma arma contra o povo palestiniano”.

A situação pode agravar-se na sequência do recente boicote de vários países ocidentais à principal agência da ONU em Gaza, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA). O boicote avançou depois de Israel acusar 12 funcionários da UNRWA de participarem nos ataques de 7 de Outubro levados a cabo pelo Hamas, o que levou à abertura de um inquérito na ONU.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia instou os países que suspenderam o financiamento a reconsiderarem, dizendo que a UNRWA é uma “tábua de salvação” para os mais de dois milhões de palestinianos em Gaza e que a agência não deve ser “punida colectivamente” quando tem mais de 13 mil funcionários.

Johan Soufi, ex-diretor jurídico da UNRWA, também suspeita das intenções de Israel, alegando que esta acusação foi feita para “desviar a atenção e distrair o debate público” numa altura em que a conduta dos israelitas está a ser escrutinada no Tribunal Internacional de Justiça, na sequência do processo por genocídio aberto pela África do Sul.

Soufi frisa que a UNRWA é frequentemente alvo de críticas de Israel, que não esconder que tem uma “campanha política” para esvaziar a Faixa de Gaza de palestinianos. “Esse projeto passa necessariamente pela neutralização ou o desaparecimento da UNRWA”, refere à rádio pública francesa RFI.

Já mais de 26 mil palestinianos perderam a vida desde 7 de Outubro, incluindo mais de 10 mil crianças.