Anti-muçulmanos vs Anti-racistas em Lisboa. PSP prepara cerco para evitar confrontos

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(cv) Sylvia Machado / YouTube

Ex-dirigente do PNR Mário Machado, porta-voz do Grupo 1143.

O Tribunal confirmou a proibição da manifestação de extrema-direita, organizada pelo grupo de Mário Machado, mas, apesar disso, o protesto anti-muçulmano avança neste sábado. À mesma hora, decorre uma contra-manifestação, um arraial anti-racista.

A PSP está a preparar uma operação policial que arranca pelas 14 horas para evitar possíveis confrontos entre os manifestantes anti-muçulmanos e anti-racistas que têm protestos organizados para este sábado, em Lisboa.

“A máxima prioridade é que os militantes de ambos os extremos não se cruzem. Temos de impedir confrontos“, aponta uma fonte policial ao Correio da Manhã (CM).

O Corpo de Intervenção foi mobilizado e haverá polícias à civil e fardados para manter a ordem.

Marcha anti-muçulmanos apesar da proibição

O Tribunal administrativo do círculo de Lisboa (TACL) confirmou, nesta sexta-feira, a decisão da Câmara Municipal de Lisboa (CML) de proibir a realização da manifestação “Contra a islamização da Europa” que é promovida pelo Grupo neo-nazi 1143, cujo porta-voz é Mário Machado.

“A acção do Mário Machado foi declarada improcedente”, revela à Lusa o advogado José Manuel Castro a propósito da decisão do tribunal.

A acção foi apresentada pelo militante de extrema-direita Mário Machado para “protecção de direitos, liberdades e garantias”, considerando que a proibição da CML seria uma violação do direito de liberdade de expressão.

Essa proibição baseou-se num parecer da PSP que aponta “um risco elevado para a ordem e segurança públicas, uma vez que se identificam vulnerabilidades graves associadas às características sociais e físicas do espaço indicado pelo promotor”.

O presidente do Observatório de Segurança Interna, Hugo Costeira, critica a proibição, notando que até pode contribuir para uma maior mobilização de manifestantes de extrema-direita.

“Não vejo com bons olhos, independentemente do assunto, que qualquer tipo de manifestação, seja de extrema-esquerda ou de extrema-direita, possa ser proibida com base em relatórios feitos por uma uma força policial [sobre] uma hipotética falta de segurança“, aponta Hugo Costeira em declarações à Rádio Observador.

A manifestação anti-muçulmanos deveria ocorrer nas zonas do Martim Moniz e da Mouraria, locais onde vivem e trabalham muitos imigrantes de países como o Bangladesh. Mas, com a proibição, o protesto passou para o Largo de Camões em Lisboa.

O protesto da extrema-direita vai começar às 18 horas e o objectivo é marchar até à Câmara de Lisboa.

Mário Machado já apelou à participação do que define como “os patriotas”, pedindo que “não se escondam atrás de um computador”. “Chegou a hora de darmos a cara, de marcarmos presença pelas nossas ideias e convicções”, sublinha numa mensagem no X, o antigo Twitter.

“Vamos sempre cumprir a Constituição, as normas estabelecidas”, realça ainda, salientando a intenção dos manifestantes se oporem à “invasão do Islão e a todo este programa que está a ser organizado pela extrema-esquerda de substituição populacional na Europa“.

A ideia da “substituição populacional”, ou da “Grande substituição“, é uma teoria racista que tem sido disseminada por movimentos de extrema-direita e neo-nazis.

Arraial para dizer “Basta” à onda racista

Antes da manifestação anti-muçulmanos, vai começar um arraial multicultural e anti-racista, pelas 16 horas, no Largo do Intendente em Lisboa.

“Vamos fazer uma concentração cultural, para celebrar a diversidade e a pluralidade contra o racismo e preconceito“, refere à Lusa Vicente, da organização Rede de Apoio Mútuo e porta-voz dos promotores.

A iniciativa é organizada por diversos colectivos de imigrantes e organizações da sociedade civil que querem mostrar que a população ali da zona “não está sozinha”, afirma.

Com o título “Não Passarão!”, o arraial apresenta-se como uma acção contra os movimentos xenófobos.

“As pessoas de fé islâmica ou oriundos de contextos muçulmanos também são nossas irmãs e que também merecem estar cá quanto qualquer outra“, sublinha Vicente.

É necessário dizer ‘Basta!’ a esta onda racista que cada dia ganha mais espaço no discurso público europeu e tenta agora infiltrar-se no território português”, escrevem os promotores do arraial nas redes sociais.

“Os partidos políticos de extrema-direita sentem-se cada vez mais à vontade, baseando-se em mentiras e desinformações para ganhar apoio, enquanto são legitimados e tolerados pelos partidos tradicionais em nome do ‘jogo político’”, salienta a organização.

Para os promotores do arraial, a ação da extrema-direita visa atingir os imigrantes do Indostão que estão na zona, “com o objectivo de aterrorizar esta população, fazê-la sentir-se indesejada e propagar o ódio e o preconceito na sociedade portuguesa”

PSP prepara vários cenários

A PSP está “a planear uma operação policial que possa ser adaptada aos diferentes cenários possíveis” para este contexto complicado.

Em comunicado, a PSP refere que “continua a recolher informação e a acompanhar os desenvolvimentos referentes” à manifestação da extrema-direita para “avaliar os potenciais riscos associados à iniciativa e planear a operação policial mais adequada às necessidades”.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. É revoltante ouvir totalitaristas usarem princípios democráticos, como o da liberdade de expressão, para praticarem atos contra a liberdade e a democracia!

  2. Entrada em Portugal de Imigrantes ilegais , Programa de acolhimento inexistente , Portugal com sérias dificuldades Socio -Económicas , para os seus próprios Cidadãos Portugueses , permanência de ilegais prestes a tudo para sobreviver ; …… Assim está criada a tempestade perfeita para proveito de grupos extremistas . Assim vai a Europa ! . Un barco sobrelotado acaba por se afundar !

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