Um país africano está a aderir à teoria racista da Grande Substituição

Christophe Petit Tesson / EPA

Manifestantes em Tunes contra o discurso de Kais Saïed.

O Presidente tunisino diz que há uma campanha secreta para separar a Tunísia da sua identidade árabe. Migrantes negros têm sido vítimas de abusos racistas.

A Grande Substituição, do francês Grand Remplacement, também conhecida como Teoria da Substituição, é uma teoria da conspiração nacionalista branca, nazifascista, de extrema-direita.

A teoria em questão defende que as elites políticas e económicas do Ocidente, frequentemente retratadas como sendo de origem judaica, têm um plano para “substituírem” a população branca e cristã com negros e muçulmanos através da imigração em massa e da quebra das taxas de natalidade dos cidadãos nativos.

O termo foi popularizado num livro do escritor Renaud Camus e associa especificamente a presença de muçulmanos em França ao potencial perigo e destruição da cultura e civilização francesas.

Contudo, a teoria saltou fronteiras, tem ganho popularidade na direita mainstream e até já foi publicamente defendida por Tucker Carlson, apresentador da Fox News cujo programa é o mais visto nos canais de notícias por cabo nos EUA.

Agora, a Grande Substituição chegou a um lugar ainda mais inesperado: ao continente africano. A Tunísia tem assistido a uma onda de ataques racistas brutais contra migrantes negros de países subsaarianos.

Os tumultos foram, em grande parte, instigados pelo Presidente tunisino, Kais Saïed, que afirmou que há uma campanha secreta para separar a Tunísia da sua identidade árabe.

Saïed acusou os migrantes negros de serem responsáveis por “violência, crime e atos inaceitáveis” e mencionou grupos não identificados que serão cúmplices de um “arranjo criminoso” para mudar drasticamente a composição demográfica da Tunísia.

O infame político da extrema direita-francesa Eric Zemmour publicou um tweet a manifestar o seu apoio ao Presidente tunisino.

“Os próprios países do Magrebe começam a soar o alarme diante do aumento da migração. Aqui, é a Tunísia que quer tomar medidas urgentes para proteger o seu povo”, escreveu o defensor da teoria. “O que estamos à espera para lutar contra a Grande Substituição?”.

A VICE conta a história de um emigrante guineense na Tunísia que tem sido vítima deste clima de terror num subúrbio de Tunes. Crianças atiram-lhe coisas, já foi agredido fisicamente no seu próprio bairro e continua a ser alvo de insultos racistas.

As autoridades também estão envolvidas. As duas últimas semanas têm sido marcadas por detenções arbitrárias de migrantes negros de países subsaarianos, por exemplo.

Alguns tunisinos estão ainda recorrer às redes sociais para divulgar vídeos a espalhar o ódio pelos “africanos”. Sim, a Tunísia que também ela pertence ao continente africano. As publicações acusam os migrantes negros de agredirem sexualmente mulheres e até comerem gatos.

Países como Guiné, Gabão e Mali viram-se forçados a organizar voos de repatriamento para migrantes que temem pela sua segurança. Centenas deles já partiram, escreve a VICE.

O Partido Nacionalista está a fazer circular uma petição a pedir a expulsão de todos os migrantes negros africanos e a imposição de um sistema especial de vistos para todas as pessoas dos países da África subsaariana.

Daniel Costa, ZAP //

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